Sexta-feira,
onze horas.
No
ponto de ônibus da vila periférica da pequena e bucólica cidade interiorana, o
cidadão está aguardando o transporte coletivo.
Aproximando-se
do local, a moça percebe sua cara de poucos amigos, enfezado mesmo. Antes que se
aproxime mais, o cidadão fica em pé, deixando o abrigo, caminhando até o meio
da rua asfaltada.
Neste
exato momento, a moça já preocupada em ter que ficar ao lado dele até a chegada
do ônibus, visualiza uma nuvem negra pairando sobre a cabeça do cidadão que, e
isso quase a paralisa, está andando em círculo. Ela diminui as passadas, pois agora restam menos de cinco metros até a guarita.
Cautelosamente
procura desviar do cidadão, mas, talvez em razão de sua juventude, a moça sente
curiosidade, pois a tal nuvem negra paira sobre a cabeça do mesmo, de mais
ninguém, aliás, o acompanha enquanto anda em círculos gesticulando com os
braços, ora apontando para o céu, ora para o chão, ora esticando-os para
frente.
Como
está a menos de dois metros dele, ouve sua voz rouca:
-
Não é possível, não é possível.
A
moça observa-o mais atentamente. Traja camisa branca de manga comprida e calça
preta, limpas e de bom corte, sapato preto brilhando de lustrado, cabelos
curtos penteados, barba feita.
Ele
continua andando em pequenos círculos no meio da rua, resmungando.
-
Não é possível, não é possível.
Agora
tão próxima, a moça nota que a nuvem negra sobre a cabeça dele até que não é
assustadora. No máximo, um evento diferente.
Ao
cruzar por ele que continua os resmungos, sequer é notada.
-
Não é possível, não possível - os resmungos formam uma ladainha.
Sentada
e protegida do sol pela sombra da guarita, a moça agora está sentindo certa simpatia pelo
cidadão.
Corte
rápido.
- O que é essa nuvem negra sobre sua cabeça?
A
moça, surpreendida pela pergunta da patroa, corre até o espelho do banheiro da loja de roupas.
Pode
isso?
(João Neto)
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