sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Crônica (Nuvem negra sobre a cabeça)



Sexta-feira, onze horas.

No ponto de ônibus da vila periférica da pequena e bucólica cidade interiorana, o cidadão está aguardando o transporte coletivo.

Aproximando-se do local, a moça percebe sua cara de poucos amigos, enfezado mesmo. Antes que se aproxime mais, o cidadão fica em pé, deixando o abrigo, caminhando até o meio da rua asfaltada.

Neste exato momento, a moça já preocupada em ter que ficar ao lado dele até a chegada do ônibus, visualiza uma nuvem negra pairando sobre a cabeça do cidadão que, e isso quase a paralisa, está andando em círculo. Ela diminui as passadas, pois agora restam menos de cinco metros até a guarita.

Cautelosamente procura desviar do cidadão, mas, talvez em razão de sua juventude, a moça sente curiosidade, pois a tal nuvem negra paira sobre a cabeça do mesmo, de mais ninguém, aliás, o acompanha enquanto anda em círculos gesticulando com os braços, ora apontando para o céu, ora para o chão, ora esticando-os para frente.

Como está a menos de dois metros dele, ouve sua voz rouca:

- Não é possível, não é possível.

A moça observa-o mais atentamente. Traja camisa branca de manga comprida e calça preta, limpas e de bom corte, sapato preto brilhando de lustrado, cabelos curtos penteados, barba feita.

Ele continua andando em pequenos círculos no meio da rua, resmungando.

- Não é possível, não é possível.

Agora tão próxima, a moça nota que a nuvem negra sobre a cabeça dele até que não é assustadora. No máximo, um evento diferente.

Ao cruzar por ele que continua os resmungos, sequer é notada.

- Não é possível, não possível - os resmungos formam uma ladainha.

Sentada e protegida do sol pela sombra da guarita, a moça  agora está sentindo certa simpatia pelo cidadão.

Corte rápido.

 - O que é essa nuvem negra sobre sua cabeça?

A moça, surpreendida pela pergunta da patroa, corre até o espelho do banheiro da loja de roupas.

Pode isso?
 
(João Neto)

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