“É o visitante 100.001. Parabéns.
Nosso gerador numérico selecionou você como um possível ganhador de uma...”.
Na tela em letras coloridas e garrafais, o anúncio tendo como pano de
fundo a imagem aérea de Paradise City, pequena e bucólica cidade incrustada às
margens do famoso e turístico lago de mesmo nome, em língua pátria.
A menina, na espontaneidade de seus dez anos, largando o notebook cor de
rosa aberto sobre a cama ainda desfeita, num salto fica em pé e sai proclamando
pelo interior da casa localizada na Vila dos Anjos, abastado bairro de classe
média e novíssimos moradores da localidade mencionada (tosse, tosse).
- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.
Primeiramente passa pela porta do quarto do primogênito, sentado em
frente ao computador.
- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.
Ele, na indolência de seus treze anos, parece não perceber sua presença e
muito menos ouvi-la, pois não desprega os olhos da tela e sequer mexe as
orelhas (?). E de pouco adiantaria se percebesse ou ouvisse, pois ela não está mais
ali e nem aí, continuando em sua peregrinação.
- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.
O homem trajado todo de branco, confortavelmente acomodado na poltrona de
couro marrom, dá uma olhadela para a menina que saltitante cruza pela sala, retornando
sua atenção, circunspeto como sempre, para a extensa petição em seu colo.
- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.
A pequena mulher que, auxiliada por sua bela funcionária, está perfilando
oito homenzinhos de latão e uma só mocinha de lata em seus respectivos assentos
na mesinha de brinquedo sobre a mesa de madeira de lei onde dali a instantes
será servida a lauta refeição aos convivas, fica a contemplar o bailado
inocente da menina até que atravesse a copa/cozinha em direção da porta, alcançando
o higienizado quintal com seu piso de cinco cores.
- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.
De sua casinha de tijolos a vista com telhado oriental e piso de cimento
queimado, o cão labrador por nome Divino observa com certa curiosidade aquele
bailar. Deixando o saboroso osso de lado, decide participar por alguns minutos da
lúdica farra.
- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade - a menina canta, demonstrando toda
sua alegria por ter companhia.
Divino, faceiro e saltitante, late ao seu redor ao mesmo tempo tentando
morder o próprio rabo.
Afe.
(João Neto)
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