Hoje, terça-feira, é o dia do silêncio para aqueles sentados como Buda.
Silenciam em respeito àqueles que vivem, respiram, mas não percebem estarem
morrendo. Vivem, mas seus olhos não são
janelas de suas almas. Respiram, mas seus corações não são recipientes de bons
sentimentos. Morrem lentamente.
Silenciam em memória daqueles que caminharam por este mundo e depois que
se foram, tornaram-se lendas.
Silenciam em desaprovação àqueles que detêm o poder e esquecem que o
poder é emanado pelo povo, mesmo certa parcela povo não tendo a consciência
cidadã de ser a origem e finalidade de se exercer o poder, seja qual for esse
poder.
Silenciam indignados pela certeza de que num tempo não muito distante a
natureza restará, pela ação do homem, em fotos e pinturas expostas à admiração
daqueles que não a conheceram.
Silenciam revoltados pelos palcos armados em prédios suntuosos construídos
em bairros de classe média de cidades esquecidas pelos governantes, onde poucos
indivíduos agem como signatários de um poder que não possuem, não merecem, e por
ele se degeneram.
Silenciam por não aceitarem a indiferença dos indivíduos que trazem em si
a liderança nata e sadia por qualquer acontecimento que possa invadir seu
território de conforto.
Silenciam ironicamente pelo besteirol dos políticos, regra máxima.
Hoje, terça-feira, é o dia do silêncio para aqueles sentados como Buda.
Que esse silêncio seja respeitado nos púlpitos, nos gabinetes, nas salas
de aula, nos estabelecimentos comerciais, nas salas de espera, em qualquer
outro local onde haja uma ou mais pessoas, onde se encontre qualquer outro animal.
Que esse silêncio seja compreendido pela criança, pelo adolescente, pelo
jovem, pelo adulto, pelo idoso.
Que esse silêncio seja ouvido por quem de direito.
Amanhã... amanhã, quarta-feira.
(João Neto)