Risadin (cauteloso): “Cautela ou bravata?”
Coverdin (audacioso): "Bravata. Quem está na
chuva é pra molhar a sola do pé”.
Risadin (citando o autor): “Já dizia Zé de
Truta”.
Coverdin(confirmando): “Já dizia Zé da Truta”.
Zé da Truta, conhecido “filosófo” da pequena
e bucólica cidade interiorana está sentado entremeio os compadres Godofredo e
Hermenegildo, no banco preferido destes dois, na praça da matriz.
Segunda-feira braba. Confusão e mais
confusão. A vida continua, a cidade modorrenta como sempre ou pouco mais, pouco menos, dependendo da ótica.
- Risadin saiu da toca – comenta Godofredo.
- É – confirma desinteressado Hermenegildo.
Zé da Truta faz muxoxo à presença mencionada.
- Tá certo, Zé de Truta, tá certo, é isso
mesmo – fala Godofredo.
- E Coverdin? Como sempre segue a risca o
riscado de Risadin – diz Hermenegildo..
Zé da Truta muxoxa novamente.
- Tá certo, Zé da Truta, tá certo outra vez –
concorda Hermenegildo.
Risadin (curioso): “E agora?”
Coverdin (no embalo): “Agora o que se há de
fazer...”
Risadin (só no sorriso): "Se ficar, a réstia pega,
se correr, o “danado” alcança".
Coverdin (arrematando só no sapatinho): “Quero
nada com o “danado” não... quero não, quero não!”
Risadin (ironizando): “E com a réstia?”
Coverdin (imitando os três macacos): “Sem
réstia, sem réstia”
Eles caem na gargalhada.
- Riem do que aqueles dois? – pergunta por perguntar Godofredo.
- Sei lá. Deles mesmos talvez – sugere Hermenegildo.
Zé da Truta só ali, tranquilinho entremeio os dois. Doze segundos depois, sem mais, sem menos, sem aviso prévio, Zé da Truta fica em pé e, sem
despedir-se, como é de seu costume, vai se indo com seu gingado e cantando:
- A Tonga da Mironga do Kabuletê, a Tonga da
Mironga da Kabuletê, a Tonga da Mironga do Kabuletê... (Salve Toquinho, Salve Vinicius de Moraes, JN)
Godofredo e Hermegildo não entendem bulhufas,
mas também não dão muita importância. O interesse deles é nos amalucados
Risadin e Coverdin.
Quando eles aparecem alguma coisa acontece.
João Neto