quinta-feira, 4 de abril de 2013

Crônica (Frases alinhavadas)


Ninguém sabe muito não. Nem dá para mensurar.
Esse faz de conta pra quem sem monta.
O bufão caminha pela alameda e o rei remeda.
A moça chora sozinha sem lenço, sem documento.
O boi está no pasto seco, o campeiro no sossego.
Os pardais observam a revoada sem passarinhada.
A moça chora sozinha sem lenço, sem movimento.
Nuvens são fantasmagóricas aos avoados.
A esquadrilha da fumaça paira sobre a autoridade.
A moça chora sozinha sem lenço, sem reconhecimento.
O sumo avermelha os olhos do intelectual e do boçal.
A fome se apresenta tanto ao pobre tanto ao nobre.
A moça chora sozinha sem lenço, sem abençoamento.
O fio da meada perdeu o rumo, a sensatez o prumo.
Nessa estrada de terra condução não trafega.
A moça chora sozinha sem lenço, sem validamento.
O gado está ajuntado na mangueira imaginária.
Os avoados necessitam de tratamentos eficazes.
A moça chora sozinha sem lenço, sem soerguimento.
As cores do arco-íris não são matizes confiáveis.
Os poderosos estão pálidos, mais tarde geará.
Ninguém sabe muito não. Nem se consegue mensurar.
Shhhh! Ouçamos o silêncio.

(João Neto)