terça-feira, 16 de abril de 2013

Crônica (O barbante da pipa de papel crepom de cor marrom o cerol cortou)


Risadin (olhando em direção ao sobrado): “A réstia só clareia ali segundo Zé da Truta filosofa.”
Coverdin (olhando na mesma direção): “Será? Zé da Truta filosofou “que a réstia passou por ali”, não foi?”
Godofredo e Hermenegildo atentos aos “din”.
Coverdin (concordado): “Isso. Isso. E sobre o  “danado”?
Risadin (também interessado): “Verdade. E o “danado” teria passado antes ou depois?”
Coverdin (com ar professoral): “Sei lá. Cadê Zé da Truta para nos esclarecer tão importante questão filosófica transcendental?”
Risadin (mudando de assunto): “Daqui a pouco ele está de volta. Continuemos. Então aconteceram os encontros secretos do conhecimento de todos, não é o que estão comentando?”
Coverdin (interrompendo): “Encontros onde é questão de honra se fazerem presentes os papagaios oficiais”.
Risadin e Coverdin caem na gargalhada.
Risadin puxa do bolso de trás da bermuda uma caderneta. Folheia, folheia até a página desejada, mostrando para Coverdin as anotações. Nomes próprios e números. Nomes próprios e números.
Coverdin (com ar de surpresa): “Nãooo! Foi assim é? Uma pessoa só se manifestou?
Risadin (com voz de soprano): “E foi por ela”.
Risadin e Coverdin caem na gargalhada novamente.
Aí Godofredo e Hermenegildo não se aguentam. Estavam até aquele momento a se remoer para saber o motivo de tanta risada, e, levados pela ânsia da curiosidade, ficam em pé ao mesmo tempo, caminhando em direção de Risadin e Coverdin.
Risadin e Coverdin estão no picadeiro imaginário armado no centro da praça da matriz.
No meio do trajeto, Zé da Truta surge vindo dos lados da padaria, caminhando com seu gingado peculiar. Do seu jeito alienado, que alguns consideram esperteza, ele interrompe a caminhada dos compadres.
E, ainda mais, atinge o máximo da efervescência a curiosidade de Godofredo e Hermenegildo quando ouvem o cantar baixinho do “filosófo” da pequena e bucólica cidade interiorana.
“Eu quero é botar meu bloco na rua
 Brincar, botar para gemer
 Eu quero é botar meu bloco na rua
 Gingar, pra dar e vender...”
(Salve Sergio Sampaio, JN)
Afe.! Agora danou-se o “danado” e o céu escureceu e a réstia arrefeceu e o barbante da pipa de papel crepom de cor marrom o cerol cortou.
João Neto