Risadin
(olhando em direção ao sobrado): “A réstia só clareia ali segundo Zé da Truta filosofa.”
Coverdin
(olhando na mesma direção): “Será? Zé da Truta filosofou “que a réstia passou
por ali”, não foi?”
Godofredo
e Hermenegildo atentos aos “din”.
Coverdin
(concordado): “Isso. Isso. E sobre o “danado”?
Risadin
(também interessado): “Verdade. E o “danado” teria passado antes ou depois?”
Coverdin
(com ar professoral): “Sei lá. Cadê Zé da Truta para nos esclarecer tão
importante questão filosófica transcendental?”
Risadin
(mudando de assunto): “Daqui a pouco ele está de volta. Continuemos. Então
aconteceram os encontros secretos do conhecimento de todos, não é o que estão
comentando?”
Coverdin
(interrompendo): “Encontros onde é questão de honra se fazerem presentes os
papagaios oficiais”.
Risadin
e Coverdin caem na gargalhada.
Risadin
puxa do bolso de trás da bermuda uma caderneta. Folheia, folheia até a página
desejada, mostrando para Coverdin as anotações. Nomes próprios e números. Nomes
próprios e números.
Coverdin
(com ar de surpresa): “Nãooo! Foi assim é? Uma pessoa só se manifestou?
Risadin
(com voz de soprano): “E foi por ela”.
Risadin
e Coverdin caem na gargalhada novamente.
Aí
Godofredo e Hermenegildo não se aguentam. Estavam até aquele momento a se
remoer para saber o motivo de tanta risada, e, levados pela ânsia da
curiosidade, ficam em pé ao mesmo tempo, caminhando em direção de Risadin e
Coverdin.
Risadin
e Coverdin estão no picadeiro imaginário armado no centro da praça da matriz.
No
meio do trajeto, Zé da Truta surge vindo dos lados da padaria, caminhando com seu gingado
peculiar. Do seu jeito alienado, que alguns consideram esperteza, ele
interrompe a caminhada dos compadres.
E,
ainda mais, atinge o máximo da efervescência a curiosidade de Godofredo e Hermenegildo
quando ouvem o cantar baixinho do “filosófo” da pequena e bucólica cidade
interiorana.
“Eu
quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar para gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Gingar, pra dar e vender...”
(Salve Sergio Sampaio, JN)
Afe.!
Agora danou-se o “danado” e o céu escureceu e a réstia arrefeceu e o barbante
da pipa de papel crepom de cor marrom o cerol cortou.
João Neto