sexta-feira, 19 de abril de 2013

Crônica (Qual o doce preferido...)


Eu só preciso saber o doce preferido dessa pessoa”, Zé da Truta medita consigo mesmo.
A praça está movimentada. Afinal, o que haveria não haverá, o que seria não mais será. Prato cheio pra rapaziada.
Retornando de suas casas, surgem os compadres Hermenegildo e Godofredo lá pelos lados do canto debaixo da praça da matriz da pequena e bucólica cidade. Rapidinho, rapidinho, sentam ao lado de Zé da Truta, deixando o “filosófo” entre eles dois. Como de costume.
- Que fez com seu invólucro? – Godofredo pergunta na lata.
Como Zé da Truta está com seu conhecido ar de apalermado que ostenta quando está arquitetando alguma travessura, Hermenegildo segura seu ombro e lhe dá uma chacoalhada daquelas.
Afinal, são suficientemente amigos pra que o “filosófo” não se irrite.
- Diga pra nós, bom amigo, o que fez com seu invólucro? – ele pergunta com a delicadeza que o momento sugere, ou seja, sussurando no ouvido.
Pois não é que Zé da Truta continua pensativo e não mexe um músculo sequer?
Será que essa pessoa gosta de arroz doce? Ou doce de abóbora? Ou doce de leite cremoso?” – seu pensamento está em qual doce deveria escolher pra poder levar adiante seu plano infalível para realizar seu teste – “Chocolate? Não, chocolate não me parece, pois dá a nítida impressão que tem dificuldades para controlar o peso. De repente, nem curte doce.” – seu rosto deixa transparecer  decepção momentânea.
Godofredo olha para seu compadre por cima da cabeça do “filosófo”, colocando o dedo indicador na boca fechada, sinalizando para que fiquem em silêncio.
Afinal, são suficientemente amigos pra entender que quando o “filosófo” está a pensar é melhor esperar, pois diversão garantida sua cachola irá descolar.
Zé da Truta minutos antes tinha solicitado pra um guri que levasse seu invólucro lacrado e escondesse num lugar secreto, com a orientação que não desvelasse o dito cujo e, somente quando lhe pedisse com a senha combinada, fosse busca-lo nesse lugar só pelo guri sabido. Enfim, coisas de “filosófos” e guris e gente do gênero.
Godofredo e Hermenegildo ficam na expectativa, pois bem sabem que Zé da Truta logo, logo retornaria ao mundo dos mortais, e não aguentaria ficar calado muito tempo, nem minutos, na verdade, e lhes contaria o que está tramando. Até porque nada que meia dúzia de latinhas de cerveja não resolvesse se continuasse de bico calado.
Pois, salvo engano, mas muito engano, ele está tramando alguma coisa. Ah, isso tá!
Godofredo e Hermenegildo esfregam as mãos, não se importando em disfarçar a excitação. E essa atitude chama atenção dos “p.m” e da rapaziada do sossego. E, por dever de ofício, do jardineiro misto de vigia. Ichi!
A cidade sabe do que Zé da Truta é capaz de aprontar. Ah, isso sabe!

 João Neto