“Eu só
preciso saber o doce preferido dessa pessoa”, Zé da Truta medita consigo
mesmo.
A praça está movimentada. Afinal, o que haveria
não haverá, o que seria não mais será. Prato cheio pra rapaziada.
Retornando de suas casas, surgem os compadres Hermenegildo e Godofredo lá pelos lados do canto
debaixo da praça da matriz da pequena e bucólica cidade. Rapidinho, rapidinho, sentam ao
lado de Zé da Truta, deixando o “filosófo” entre eles dois. Como de costume.
- Que fez com seu invólucro? – Godofredo pergunta
na lata.
Como Zé da Truta está com seu conhecido ar de apalermado
que ostenta quando está arquitetando alguma travessura, Hermenegildo segura seu
ombro e lhe dá uma chacoalhada daquelas.
Afinal, são suficientemente amigos pra que o “filosófo”
não se irrite.
- Diga pra nós, bom amigo, o que fez com seu
invólucro? – ele pergunta com a delicadeza que o momento sugere, ou seja, sussurando no ouvido.
Pois não é que Zé da Truta continua
pensativo e não mexe um músculo sequer?
“Será
que essa pessoa gosta de arroz doce? Ou doce de abóbora? Ou doce de leite
cremoso?” – seu pensamento está em qual doce deveria escolher pra poder
levar adiante seu plano infalível para realizar seu teste – “Chocolate? Não, chocolate não me parece, pois
dá a nítida impressão que tem dificuldades para controlar o peso. De repente,
nem curte doce.” – seu rosto deixa transparecer decepção momentânea.
Godofredo olha para seu compadre por cima da
cabeça do “filosófo”, colocando o dedo indicador na boca fechada, sinalizando
para que fiquem em silêncio.
Afinal, são suficientemente amigos pra
entender que quando o “filosófo” está a pensar é melhor esperar, pois diversão garantida sua
cachola irá descolar.
Zé da Truta minutos antes tinha solicitado
pra um guri que levasse seu invólucro lacrado e escondesse num lugar secreto,
com a orientação que não desvelasse o dito cujo e, somente quando lhe pedisse
com a senha combinada, fosse busca-lo nesse lugar só pelo guri sabido. Enfim,
coisas de “filosófos” e guris e gente do gênero.
Godofredo e Hermenegildo ficam na expectativa,
pois bem sabem que Zé da Truta logo, logo retornaria ao mundo dos mortais, e não
aguentaria ficar calado muito tempo, nem minutos, na verdade, e lhes contaria o
que está tramando. Até porque nada que meia dúzia de latinhas de cerveja não
resolvesse se continuasse de bico calado.
Pois, salvo engano, mas muito engano, ele
está tramando alguma coisa. Ah, isso tá!
Godofredo e Hermenegildo esfregam as mãos, não
se importando em disfarçar a excitação. E essa atitude chama atenção dos “p.m”
e da rapaziada do sossego. E, por dever de ofício, do jardineiro misto de
vigia. Ichi!
A cidade sabe do que Zé da Truta é capaz de
aprontar. Ah, isso sabe!
João Neto