domingo, 7 de abril de 2013

O país do jeitinho e do jeitão

Que o Brasil é país de conchavos e conluios não há quem não saiba. Nem mesmo a mais ingênua das comadres se deixa enganar com falas de políticos. Ultimamente também com as falas de pregadores da fé. Prometem mundo e fundos para se eleger ou pare encher seus templos. Depois é depois… Aí, se forem pegos em contradições ou desvios de conduta ou de verba, jogam a militância partidária ou religiosa contra quem ousou falar. Não vê quem não quer.
Todos os países passam por isso, mas alguns passam mais. O Brasil é o dos que mais passam. Grandes adversários de ontem que xingavam mães por conta de corrupções e posições totalmente antagônicas, agora sentam-se juntos e se canonizam e se defendem de unhas e dentes contra a corja que pretende tomar-lhes o poder…
No Brasil saber mentir compensa. Por saber mentir cresceram políticos, partidos, pregadores e igrejas. Quem ousa questionar partidos vitoriosos ou igrejas entulhadas de fiéis? Perde quem? O denunciado ou quem denuncia? Provas provam o quê, se depois tudo acaba em pizza?
Escândalo após escândalo, antes de depois do julgamento nada prospera porque alguém poderoso foi lá e interferiu. Poupam-se governadores, políticos influentes ou figuras que possam fornecer votos e perpetuar o poder. Vale o montante de votos que o suspeito pode carrear. A ética é sempre contornável. O poderoso sabe que se for denunciado bastará negar e jogar a culpa em quem denunciou, seja ele um jornalista, um juiz, um promotor, um caseiro ou um motorista. Meses ou anos depois ninguém mais ouvirá falar do caseiro ou do motorista e o acusado poderá ser visto sentado ereto e pomposo na cadeira da qual uma parte do povo queria expulsá-lo.
Dá-se um jeitão via conchavos e conluios. O jeitinho fica para casos menores e para o povo que sabe que dá para burlar a lei. É saber o jeitinho. Quando os preços são revistos no andamento das obras e pulam de 400 mil para 1 milhão; quando a licitação já traz embutido um aumento de 45%; quando 20 ou 40% vai para algum caixa dois e depois, por maiores que sejam as provas, fica o dito pelo não dito, estamos num país em crescimento, mas não em desenvolvimento. É país em excrescência, como diria Jean Baudrillard. De fora parece grande, mas por dentro é espaço apequenado.
O caciquismo e o partidarismo superam de longe o estadismo. Boa coisa não se prevê num país no qual a voz das ruas é mais permitida do que ouvida. Democracia é mais do que permitir que se fale; é ouvir o que o povo diz. E faz tempo que o povo não quer mais desvios de verba ou influência de apenas um partido. Já vimos este filme que vinha da direita; e não foi nada agradável. Que agora não venha da esquerda. É que os “ismos” de esquerda e de direita, todos eles, a longo prazo, sufocaram a cidadania. Madame Alternância sempre foi melhor que Madame “Daqui Não Saio”!

NOTA:
O texto acima, datado de 23.06.2012, autoria de Padre Zezinho, conhecido cantor, compositor e padre da Igreja Católica Apostólica Romana, consta no seu site http://www.padrezezinhoscj.com, de onde foi copiado e está colado neste blog.
Temos máximo apreço por Padre Zezinho e sua trajetória fala por si sobre sua integridade cívica, porém, talvez não concordemos com algumas das ideias que expos, mas concordamos plenamente com muitas delas.
 “Que o Brasil é país de conchavos e conluios não há quem não saiba”, ou “Ultimamente também com as falas de pregadores da fé”, ou “Grandes adversários de ontem que xingavam mães por conta de corrupções e posições totalmente antagônicas, agora sentam-se juntos e se canonizam e se defendem de unhas e dentes...”, ou “A ética é sempre contornável”,  ou “Dá-se um jeitão via conchavos e conluios. O jeitinho fica para casos menores e para o povo que sabe que dá para burlar a lei”, ou “O caciquismo e o partidarismo superam de longe o estadismo”, ou “Boa coisa não se prevê num país no qual a voz das ruas é mais permitida do que ouvida. Democracia é mais do que permitir que se fale; é ouvir o que o povo diz”, são algumas dessas ideias, até porque, s.m.j, se encaixariam perfeitamente em alguns acontecimentos recentes daquela pequena e bucólica cidade interiorana tão bem conhecida por nós.
Talvez sejamos ingênuos em acreditar que esse ambiente político possa se regenerar.  Talvez. Mas é tão bom acreditar. Até porque sempre estaremos perambulando pelas ruas daquela cidade. Afinal, nos sentimos partes integrantes do seu povo, e nos faz tão bem esse sentir.
(João Neto)