sexta-feira, 12 de abril de 2013

Texto (A história que nunca foi contada)


(continuação)
TRÊS
O corpanzil que passa por sobre sua cabeça de maneira tão rápida o faz assemelhar-se a um vulto, e por dobrar o corpo à frente temendo ser atingido por ele, a adolescente de óculos e cabelos aloirados se desequilibra, caindo, e por segurar firmemente a pequena caixa entre as mãos, espremida contra o peito arfante, se estatela na rua, instintivamente fecha os olhos, enquanto seus óculos se espatifa no paralelepípedo.
Quando se recobra do susto, de joelhos procura observar ao seu redor, mas sua miopia impede que tenha uma visão clara, distinguindo apenas que está sozinha. Aquele ente vestido coloridamente girando o guarda-chuva nas cores do arco-íris desaparecera e seus contemporâneos soverteram.
Ainda não sente medo. Sente-se só, irremediavelmente só.
Tateia o chão com a finalidade de encontrar seus óculos. Tentativa inútil. Põe-se em pé, a caixa segura pelas mãos ainda mais espremida contra o peito. Está no meio da rua.
O silêncio.
A adolescente de cabelos aloirados agora sente medo.
Está só, irremediavelmente só.
Titubeante, caminha em direção ao abrigo para passageiros de ônibus circular que sabe encontrar-se na calçada logo ao seu lado.
Sua visão é turva em razão da miopia.
Sentada, ela toca a caixa de metal. A ponta de seu dedo indicador contorna a figura em relevo no centro de sua tampa.
A adolescente de cabelos aloirados sem perceber toca com mais firmeza essa figura. A caixa abre imediatamente, surpreendendo-a.
Por alguns segundos fica indecisa, mas ousa remexer no conteúdo da caixa. Segurando com o polegar e o indicador da mão direita aproxima o papel dos seus olhos para que possa distingui-lo.
Sua visão é turva em razão da miopia, mas identifica uma foto. Com a caixa no colo, aproxima outro e outro e outro papel. Fotos, todas são fotos de pessoas, aparentemente fotografadas num mesmo local.
No interior da caixa de metal estão muitas fotos. Recoloca aquelas duas fotos na caixa, sem fechá-la.
“Quem são essas pessoas? E onde foram fotografadas? E por que estão nesta caixa de metal?”, a adolescente de cabelos aloirados se pergunta.
(continua)
(João Neto)