A qualquer visitante que ande pelas ruas desta
pequena e bucólica cidade interiorana, é certo que note no semblante de muitos
de seus cidadãos o aspecto condizente a certa alienação em relação aos
acontecimentos à sua volta, ou mais próximos ou mais longínquos, absorvidos talvez
pela constante labuta e pelos afazeres domésticos diários.
Nessa caminhada constate que a maioria de seus moradores
mais proeminentes aqui não é nascida, tendo chegado e se estabelecido no
comércio, em cargos públicos, participando
ativamente de sua vida social e política, muitos deles com certo
destaque, e mesmo dentre os muitos profissionais liberais que aqui assentam praça
(engenheiros, dentistas, advogados, e tantos outros, médicos principalmente)
percebe-se essa maioria, vamos assim mencionar, “estrangeira”.
Fácilmente perceba que grande parcela de seus diletos
filhos se foi muito cedo, a procura de melhores empregos e estudo e de melhores
condições de vida em outras cidades, vizinhas ou distantes, e por aqui são
vistos quando em visita a parentes, principalmente em feriados prolongados. Por
aquelas plagas constituíram família, se fizeram vencedores em menor ou maior
grau, mas raramente retornam em definitivo para sua cidade natal, mesmo diante
do ditado mencionado pela balconista a um freguês, “quem bebe água da biquinha
volta sempre”.
O café expresso servido por ela é muito bom.
Alguns acontecimentos nos deixam perplexos. E essa
perplexidade nos faz silenciar e conversar apenas com “nossos botões”, até para
não contrariar tão bela jovem. As autoridades constituídas em todos os
segmentos, eleitas ou por merecimento, aparentemente não se esforçam em reter
os talentos nascidos nesta cidade. Não oferecem a esses jovens e a essas
jovens motivação necessária para não
buscar outros centros mais desenvolvidos; nem
oportunidade de, em ficando, no transcorrer do tempo inovar
positivamente as práticas política, comercial, empresarial, industrial,
educacional deste município, favorecendo assim seus conterrâneos. Um
círculo vicioso. Quem decide “ir embora” o faz sem titubear, sem pestanejar, sem olhar pra trás. Quem
fica, pouco contribui para modificar esse quadro, até porque se tentar, normalmente é
deixado de lado, torna-se inconveniente para essas “autoridades” constituídas.
Vou pedir mais um café expresso.
A
eficiente gerente termina a leitura do sexto guardanapo escrito pelo viajante
cujo nome até este momento lhe é ainda desconhecido, leitura que fez com
tranquilidade em razão do baixo movimento de fregueses por causa do feriado de
1º de maio, dobrando-o e pondo-o no bolso do avental, retornando ao seu posto
junto ao caixa, recolocando-o na gaveta junto aos outros oito.
João Neto