Quais os ingredientes da massa do
sorvete fantasia?
Sei lá.
Não sou filosófo. Aliás, conheço um “filosófo”,
como se autodenomina um grande amigo, o Zé da Truta.
Diz Zé da Truta que o sorvete de massa
fantasia é uma mistura de sonhos, desejos e outros sabores menos degustáveis.
Quais os ingredientes do bolo decepção?
Sei lá.
Zé da Truta, entre um gole e outro e
quando o assunto vem a baila, explica que decepção não é bolo, e sim simples
mistura de arroz e feijão, considerando arroz a realidade, considerando feijão
nossa visão dessa realidade. Tudo devidamente cozido, temperado e servido
quente.
Quais os ingredientes do pudim caráter?
Sei lá.
Amanhã ou depois perguntarei à Zé da
Truta, se encontra-lo no bar de costume ou em seu banco preferido da praça em
frente à matriz.
O que sei é que conheci alguém
saboreando uma grande fantasia. Seus olhos amendoados e seu sorriso cativante
no bonito rosto de mulher são os rabiscos perfeitos dessa fantasia.
Mas também vi do outro lado da mesma via
o rosto esbranquiçado, os olhos enuviados, a expressão impenetrável de quem um dia
fantasiou e o vento do inesperado tudo pra longe levou.
E tanto aquele que conheci como o outro que
vi se esquivem, e por mais que escondam, finjam, escamoteiem, se mostram como
realmente são. Nem mais bonitos, nem
mais feios.
Zé da Truta diz que são como palavras
ocas, que só possuem significado mediante uma atitude do falante.
Sei lá. O que menos importa é o significado disso tudo. Se é que possui significado. Enfim.
As formigas se preparam para o inverno.
De repente possam se interessar pelo sorvete de massa fantasia, ou pelo pudim caráter,
ou pelo bolo decepção. Nunca se sabe. Talvez um dia desses topemos com elas carregando migalhas
dessas guloseimas para o formigueiro. Arroz e feijão, mesmo crus, certamente são prioridades, e farão parte dessa carga.
Lá no formigueiro se tornam uma coisa
só, não é?
João Neto
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