segunda-feira, 27 de maio de 2013

Crônica (Lá no formigueiro se tornam uma coisa só, não é?)

Quais os ingredientes da massa do sorvete fantasia?
Sei lá.
Não sou filosófo. Aliás, conheço um “filosófo”, como se autodenomina um grande amigo, o Zé da Truta.
Diz Zé da Truta que o sorvete de massa fantasia é uma mistura de sonhos, desejos e outros sabores menos degustáveis.
Quais os ingredientes do bolo decepção?
Sei lá.
Zé da Truta, entre um gole e outro e quando o assunto vem a baila, explica que decepção não é bolo, e sim simples mistura de arroz e feijão, considerando arroz a realidade, considerando feijão nossa visão dessa realidade. Tudo devidamente cozido, temperado e servido quente.
Quais os ingredientes do pudim caráter?
Sei lá.
Amanhã ou depois perguntarei à Zé da Truta, se encontra-lo no bar de costume ou em seu banco preferido da praça em frente à matriz.
O que sei é que conheci alguém saboreando uma grande fantasia. Seus olhos amendoados e seu sorriso cativante no bonito rosto de mulher são os rabiscos perfeitos dessa fantasia.
Mas também vi do outro lado da mesma via o rosto esbranquiçado, os olhos enuviados, a expressão impenetrável de quem um dia fantasiou e o vento do inesperado tudo pra longe levou.
E tanto aquele que conheci como o outro que vi se esquivem, e por mais que escondam, finjam, escamoteiem, se mostram como realmente são.  Nem mais bonitos, nem mais feios.
Zé da Truta diz que são como palavras ocas, que só possuem significado mediante uma atitude do falante.
Sei lá. O que menos importa é o significado disso tudo. Se é que possui significado. Enfim.
As formigas se preparam para o inverno. De repente possam se interessar pelo sorvete de massa fantasia, ou pelo pudim caráter, ou pelo bolo decepção. Nunca se sabe.  Talvez um dia desses topemos com elas carregando migalhas dessas guloseimas para o formigueiro. Arroz e feijão, mesmo crus, certamente são prioridades, e farão parte dessa carga.
Lá no formigueiro se tornam uma coisa só, não é?

João Neto

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