(continuação)
QUARTO
O delegado de polícia, os funcionários
da delegacia de polícia, a multidão
Segunda-feira outonal. Manhã
de céu azul, nuvens claras.
O jovem delegado de
polícia está em sua sala. A delegacia de polícia localiza-se no centro da
cidade, constituída de três prédios. O primeiro, atendimento ao público,
centenário. O segundo, com sua sala e do setor de investigação, nos fundos,
mais a direita; mais à esquerda, o prédio mais novo com as salas dos escrivães,
cozinha, arquivo, e banheiros masculino e feminino para o público. Entre eles,
um pátio apedregulhado e a garagem das viaturas e de uso dos funcionários, afora a cela longe dos olhos de curiosos.
Funcionários que estão num
vai e vem frenético, cumprindo as determinações da chefia. Um agente policial,
uma escrivã, um escrivão, dois investigadores, o efetivo total de policiais.
Em sua segunda semana na
cidade e acontece esse crime. Vinte e cinco anos sem assassinato. Vinte e cinco
anos.
“Deveria ter ficado no fórum como escrevente ou ter ido para a carreira
de promotor”, pensa o jovem bacharel enquanto analisa as informações sobre
a mesa.
Cidinho, ou melhor, Sidinei
Gomes. Cinquenta e cinco anos completados no dia anterior, solteiro, vendedor
de sorvetes, porém, proprietário de cinco casas, além daquela onde viveu sozinho
por mais de vinte anos até a noite de sua morte. Renda mensal acima de cinco mil
dólares. Mulherengo. Na foto de sua
cédula identidade, bigode vistoso, vasta cabeleira. Pai não informado,
mãe Maria Aparecida Gomes, natural da cidade, criado e, pelo que consta, nunca
viajou, nem ao menos pra qualquer das cidades vizinhas.
Um tiro certeiro na testa.
Um só tiro.
Os dois investigadores
surgem na porta, entrando ao sinal do delegado, postando-se em frente à mesa.
- Doutor, o casal de
namorados está na sala do escrivão. O pai acompanha a adolescente. O rapaz veio
sozinho, mas chegou com eles.
O jovem delegado de
polícia põe-se em pé.
- Há um pequeno
probleminha, doutor...
- Diga.
- Tem uma multidão em
frente da delegacia. Penso que a cidade toda está lá fora.
- Puta que o pariu! – desabafa
a autoridade – por que esse sorveteiro foi se deixar matar justamente agora?
(continua)
João Neto
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