quinta-feira, 16 de maio de 2013

Texto IV (O azar do venturoso Cidinho, o sorveteiro)


(continuação)

QUARTO


O delegado de polícia, os funcionários da delegacia de polícia, a multidão

Segunda-feira outonal. Manhã de céu azul, nuvens claras.
O jovem delegado de polícia está em sua sala. A delegacia de polícia localiza-se no centro da cidade, constituída de três prédios. O primeiro, atendimento ao público, centenário. O segundo, com sua sala e do setor de investigação, nos fundos, mais a direita; mais à esquerda, o prédio mais novo com as salas dos escrivães, cozinha, arquivo, e banheiros masculino e feminino para o público. Entre eles, um pátio apedregulhado e a garagem das viaturas e de uso dos funcionários, afora a cela longe dos olhos de curiosos.
Funcionários que estão num vai e vem frenético, cumprindo as determinações da chefia. Um agente policial, uma escrivã, um escrivão, dois investigadores, o efetivo total de policiais.
Em sua segunda semana na cidade e acontece esse crime. Vinte e cinco anos sem assassinato. Vinte e cinco anos.
Deveria ter ficado no fórum como escrevente ou ter ido para a carreira de promotor”, pensa o jovem bacharel enquanto analisa as informações sobre a mesa.
Cidinho, ou melhor, Sidinei Gomes. Cinquenta e cinco anos completados no dia anterior, solteiro, vendedor de sorvetes, porém, proprietário de cinco casas, além daquela onde viveu sozinho por mais de vinte anos até a noite de sua morte. Renda mensal acima de cinco mil dólares. Mulherengo.  Na foto de sua cédula identidade,  bigode vistoso, vasta cabeleira. Pai não informado, mãe Maria Aparecida Gomes, natural da cidade, criado e, pelo que consta, nunca viajou, nem ao menos pra qualquer das cidades vizinhas.
Um tiro certeiro na testa. Um só tiro.
Os dois investigadores surgem na porta, entrando ao sinal do delegado, postando-se em frente à mesa.
- Doutor, o casal de namorados está na sala do escrivão. O pai acompanha a adolescente. O rapaz veio sozinho, mas chegou com eles.
O jovem delegado de polícia põe-se em pé.
- Há um pequeno probleminha, doutor...
- Diga.
- Tem uma multidão em frente da delegacia. Penso que a cidade toda está lá fora.
- Puta que o pariu! – desabafa a autoridade – por que esse sorveteiro foi se deixar matar justamente agora?

(continua)
João Neto

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