segunda-feira, 13 de maio de 2013

Texto I (O azar do venturoso Cidinho, o sorveteiro)


Nota do autor. O texto que se segue talvez possa ser incluído no gênero policial, guardadas as devidas proporções de textos semelhantes da lavra de autores mais abalizados. Sua história e seus personagens são fictícios, saídos da imaginação e da invencionice de João Neto (pseudônimo do autor), não trazendo quaisquer semelhanças com acontecimentos reais ou com pessoas vivas ou mortas.



PRIMEIRO


Mário Coceira, Marialva Chupa-Chupa, Cidinho

Mário Coceira olha pra cima, pra baixo, verificando atentamente o movimento da rua. Deserta. Satisfeito, entra no escritório de sua loja estabelecida no Jardim Paulista, bairro de moradores predominantemente classe C da pequena e bucólica cidade interiorana, trancando a chave a porta.
- Então, está aí com você?  - ele pergunta,  com a frieza que lhe é peculiar, sentado em sua confortável cadeira giratória detrás da mesa do acanhado escritório, fundos do térreo do assobradado recém construído.
Marialva Chupa-Chupa sorri, retirando o pendrive que traz entre os formosos seios. Seu discreto sorriso deixa transparecer a malícia por ter percebido o ávido olhar do pequeno homem no decote generoso de seu vestido vermelho que, de tão justo, só faz realçar ainda mais as curvas sensuais de seu corpo perfeito.
- Você é demais, Marialva – Mário Coceira elogia a eficácia e a beleza morena da jovem sentada de pernas cruzadas no sofá à sua frente, deixando à mostra um tiquinho de suas coxas torneadas..
Sem desviar o olhar daquela formosura de exemplar do sexo feminino, guarda o objeto que ela lhe passou na terceira gaveta da mesa, de onde retira um envelope marrom fechado, depois a tranca a chave, colocando o molho de chaves na primeira gaveta.
– Seu dinheiro. Você o mereceu integralmente.
Marialva Chupa-Chupa descruza as pernas, num relance deixando  aparecer sua calcinha branca, ficando em pé se compõe e se coloca defronte à mesa, pegando o envelope, abrindo-o, conferindo a quantia, recolocando-a no envelope, e guardando este na carteira de couro que segura na mão esquerda, despedindo-se em seguida de Mário Coceira  com um beijo enviado com o dedo indicador e sua unha pintada em tom vermelho, dirigindo-se até a saída.
O pequeno homem quase se rela nela antes de alcançar a porta, abrindo-a. Sorrindo, sempre em silêncio, a morena passa por ele,  pelo umbral, desce os dois degraus da escada alcançando o estreito corredor externo lateral, deixando seu perfume impregnando o ambiente.
Sem olhar pra trás ela alcança a calçada, caminhando tranquilamente rumo duas quadras abaixo, onde o táxi de Rodivaldo Pé no Breque a aguarda.
- Sorvete de limão, sorvete de abacaxi, sorvete de groselha...
Cidinho, com seu multicolorido carrinho de sorvetes, dá de topa com Marialva Chupa-Chupa na esquina.
 – Desculpa – ele se escusa educadamente.
- Foi nada – ela fala suavemente, reconhecendo o sorveteiro.
Marialva Chupa-Chupa pede seu sabor preferido. Cidinho tira a tampa do recipiente e de seu interior traz sorvete de limão no palito, entregando à bela morena que lhe passa R$ 1,00 em moeda, depois retira o papel que protege a guloseima, jogando-o na pequena lixeira de plástico pendurada no carrinho. Com um aceno de mão se despede dele, retornando seu caminhar em direção ao táxi. 
- Sorvete de groselha, sorvete de abacaxi, sorvete de limão...
Cidinho retoma sua ladainha atrás da freguesia, enquanto admira o rebolar da bela mulher que se distancia.
Aonde eu vi essa morenaça?”, indaga consigo, dando de ombros por não se recordar onde teria visto tão linda mulher, observando-a entrar no veículo de aluguel – “Esse Pé no Breque é sortudo mesmo”.
Não se apercebendo da presença de Mário Coceira nos degraus de sua pequena loja de tintas, prossegue a labuta do pão nosso de cada dia.
- Sorvete de limão, sorvete de abacaxi, sorvete de groselha...
Mário Coceira caminha pelo estreito corredor lateral em direção ao escritório falando ao telefone celular.
- Ele abriu o bico? - indaga Rodivaldo Pé no Breque à Marinalva Chupa-Chupa, enquanto a visualiza pelo retrovisor, mas atento ao movimento de veículos na rodovia.
Estão próximos à entrada da boate, distante cerca de dois quilômetros do centro da cidade.
A bela morena, com um movimento de cabeça, responde negativamente.
Ele é esperto. O desgraçado é esperto.”, o taxista conclui consigo mesmo, enquanto dá três toques na buzina, sinal combinado,  em frente ao grande portão da pequena chácara onde funciona a casa noturna mais afamada da região.

(continua)
(João Neto)

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