sábado, 13 de julho de 2013

Crônica (“Se vai se lambuzar de mel, não esqueça o favo ao léu”)



Convenhamos, nem tudo é como desejamos. Batida essa máxima, não é?
Nem tudo acontece como desejamos. Enjoadinha essa também.
Nem todos moram numa pequena e bucólica cidade interiorana. Epa! Nem poderiam, pois se todos morassem numa pequena e bucólica cidade interiorana, seria ela uma metrópole, não é? Quem sabe até uma megalópole.
Eu moro numa pequena e bucólica cidade interiorana.
Talvez num dia desses que levantamos de pé esquerdo, manhã fria e chuvosa, eu decida escrever sobre o que vi, vivi e ouvi. Não sou lá essas coisas no uso das palavras, tudo bem. Escreverei apenas para ficarem esquecidas em uma gaveta qualquer essas palavras rascunhadas em folhas de sulfite.
Por exemplo.
Outro dia, cedinho, cedinho, vi minha vizinha de bairro indo para o trabalho. Sua casa fica numa rua paralela a minha. Na casa, ela e os pais. Filha única, bajulada a danar pelo casal. Merece. Moça bonita, prendada, trabalha numa agência bancária no centro da cidade, cerca de dez quadras de nosso bairro. Diante de distância tão curta, ela sempre vai a pé para o trabalho.
Outro exemplo.
Estava eu outro dia conversando com dois dos meus melhores amigos. São compadres eles. E velhinhos. Mas espertos que eles só.  Estávamos na praça da matriz, centro da cidade, sentados no nosso banco predileto. Horário de almoço. De repente, vimos minha vizinha de bairro saindo da sede da associação comercial. Linda como ela só. Meus amigos se agitaram, pois veio ela na direção da praça, aparentemente com intenção de atravessá-la, o que certamente ocasionaria passar pertinho, pertinho de nós. Não passou.
Antes de por o pé na rua, uma moto parou, o piloto tirou o capacete, recebeu uma beijoca dela, e em seguida, após pegar o capacete que estava na garupa e colocar na cabeça, ela sentou-se no banco, abraçando o sujeito pela cintura, e ele, já de capacete, acelerou e virando a esquina, deixou nós três ali de queixo caído.
Salvo engano dos meus amigos, o motoqueiro não era nada mais, nada menos, que o namorador mais namorador da cidade.
Na minha modesta opinião, um sortudo. Até porque nada tenho contra o dito cujo, cujo pai jogou de zagueiro no nosso time da escola onde eu fui goleiro titular até o último ano, nos idos tempos de nossa adolescência.
Ele um sortudo. Ela uma jogadora, pois o rapaz é herdeiro de uma das maiores fortunas da cidade.
Outro exemplo.
Estava eu outro dia na fila da agência dos Correios. A moça a minha frente cheirando perfume barato conversava em voz alta com a moça a sua frente sem se importar com as demais pessoas presentes. Complicado? Não. Tirando eu, conte duas pessoas a minha frente e são elas.
Assunto. A gravidez de minha vizinha de bairro. Fuxiqueira. Ou até inveja da sorte grande. Afinal, pensei com meus botões enquanto ouvia aquela voz esganiçada da mocinha, ela arriscou e acertou, pois certamente o riquinho a levaria ao altar, ou arcaria com a criação do herdeiro, que em todo caso teria parte naquela dinheirama toda da família do pai.
Meu queixo caiu – e tenho comigo de todos os demais – quando a danadinha da fuxiqueira disse em alto e bom som que o pai  era nada mais, nada menos que o gerente da agência bancária.
Convenhamos, nem tudo é como desejamos, nem tudo acontece como desejamos e, tenho comigo, esses acontecimentos não se dão apenas numa cidade pequena e bucólica como essa em que eu moro.
Como diria o grande “filosófo” e companheiro de bar Zé da Truta, “se vai se lambuzar de mel, não esqueça o favo ao léu”.
E ainda preciso ouvir o que dirão os dois compadres disso tudo. Amanhã ao meio-dia encontro com eles lá na praça e tiro a limpo isso.
João Neto

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