Convenhamos,
nem tudo é como desejamos. Batida essa máxima, não é?
Nem
tudo acontece como desejamos. Enjoadinha essa também.
Nem
todos moram numa pequena e bucólica cidade interiorana. Epa! Nem poderiam, pois
se todos morassem numa pequena e bucólica cidade interiorana, seria ela uma
metrópole, não é? Quem sabe até uma megalópole.
Eu
moro numa pequena e bucólica cidade interiorana.
Talvez
num dia desses que levantamos de pé esquerdo, manhã fria e chuvosa, eu decida
escrever sobre o que vi, vivi e ouvi. Não sou lá essas coisas no uso das
palavras, tudo bem. Escreverei apenas para ficarem esquecidas em uma gaveta
qualquer essas palavras rascunhadas em folhas de sulfite.
Por
exemplo.
Outro
dia, cedinho, cedinho, vi minha vizinha de bairro indo para o trabalho. Sua
casa fica numa rua paralela a minha. Na casa, ela e os pais. Filha única,
bajulada a danar pelo casal. Merece. Moça bonita, prendada, trabalha numa
agência bancária no centro da cidade, cerca de dez quadras de nosso bairro.
Diante de distância tão curta, ela sempre vai a pé para o trabalho.
Outro
exemplo.
Estava
eu outro dia conversando com dois dos meus melhores amigos. São compadres eles.
E velhinhos. Mas espertos que eles só. Estávamos na praça da matriz, centro da cidade,
sentados no nosso banco predileto. Horário de almoço. De repente, vimos minha
vizinha de bairro saindo da sede da associação comercial. Linda como ela só.
Meus amigos se agitaram, pois veio ela na direção da praça, aparentemente com
intenção de atravessá-la, o que certamente ocasionaria passar pertinho,
pertinho de nós. Não passou.
Antes
de por o pé na rua, uma moto parou, o piloto tirou o capacete, recebeu uma
beijoca dela, e em seguida, após pegar o capacete que estava na garupa e
colocar na cabeça, ela sentou-se no banco, abraçando o sujeito pela cintura, e
ele, já de capacete, acelerou e virando a esquina, deixou nós três ali de
queixo caído.
Salvo
engano dos meus amigos, o motoqueiro não era nada mais, nada menos, que o namorador
mais namorador da cidade.
Na
minha modesta opinião, um sortudo. Até porque nada tenho contra o dito cujo,
cujo pai jogou de zagueiro no nosso time da escola onde eu fui goleiro titular
até o último ano, nos idos tempos de nossa adolescência.
Ele
um sortudo. Ela uma jogadora, pois o rapaz é herdeiro de uma das maiores
fortunas da cidade.
Outro
exemplo.
Estava
eu outro dia na fila da agência dos Correios. A moça a minha frente cheirando
perfume barato conversava em voz alta com a moça a sua frente sem se importar
com as demais pessoas presentes. Complicado? Não. Tirando eu, conte duas
pessoas a minha frente e são elas.
Assunto.
A gravidez de minha vizinha de bairro. Fuxiqueira. Ou até inveja da sorte
grande. Afinal, pensei com meus botões enquanto ouvia aquela voz esganiçada da
mocinha, ela arriscou e acertou, pois certamente o riquinho a levaria ao altar,
ou arcaria com a criação do herdeiro, que em todo caso teria parte naquela dinheirama
toda da família do pai.
Meu
queixo caiu – e tenho comigo de todos os demais – quando a danadinha da
fuxiqueira disse em alto e bom som que o pai era nada mais, nada menos que o gerente da agência bancária.
Convenhamos,
nem tudo é como desejamos, nem tudo acontece como desejamos e, tenho comigo,
esses acontecimentos não se dão apenas numa cidade pequena e bucólica como
essa em que eu moro.
Como
diria o grande “filosófo” e companheiro de bar Zé da Truta, “se
vai se lambuzar de mel, não esqueça o favo ao léu”.
E
ainda preciso ouvir o que dirão os dois compadres disso tudo. Amanhã ao
meio-dia encontro com eles lá na praça e tiro a limpo isso.
João
Neto
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