Alguém
me perguntou se eu entendia de sombra, ou de nuvem... linguagem cibernética, ou algo assim, segundo
o indagador.
Na
verdade, não entendo lhufas de sombra ou nuvens.
Outro
indagou sobre fotografias. Escura aqui, mais clara ali, mas a esquerda aqui,
mais a direita ali. Um pouco pra cima ou um pouco pra baixo.
Tudo
bem, até entendi o novo interlocutor.
Porém,
mais escura, mais clara, mais a esquerda, mais a direita, mais pra cima, mais
pra baixo, e coisitas mais, em relação a quê?
Deixa
pra lá, até porque não sou fotógrafo, não é?
Nesta
pequena e bucólica cidade interiorana me surpreendi outro dia. Estava eu
caminhando pelas ruas, ruas mesmo, não gosto muito de andar nas calçadas não
muito simétricas, quando não mais que de repente me deparei frente a frente com
um sujeito meio carrancudo, chato mesmo, ofensivo até. Claro, na minha maneira
de visualizá-lo caminhando daquele jeito sem jeito, camiseta descolorida cavada,
peito despelado, bermuda decorada, chinelos surrados, oleosos cabelos
despenteados, barba por fazer, dentes amarelados... enfim, descuidado... e
carrancudo, chato mesmo, na acepção da palavra. E, o pior, mandado cem por
cento pela companheira que sempre é vista ao seu lado.
E
a companheira, então... Vixe! Baixinha, pernas curtas e grossas, cintura mais
parecida com uma bola, cabelos curtinhos judiados pelo tingimento semanal na
cor entre vermelho fluorescente e marrom debochado, minissaia mais para
microssaia, blusinha deixando a saliente barriga de fora e umbigo desaparecido
entre dobras e dobras, seios caídos querendo escorregar pelo decote exagerado, estrábica,
e tatuagens entre o pescoço e as duas canelas.
-
Fala aí, ó meu! – ele me cumprimentou raivosamente com sua voz fanhosa ao
passar por mim, relando ombro com ombro, isto porque a rua em questão é larga a danar.
Sua
companheira sequer se dignou a me conceder uma olhadela, um soslaio que fosse.
Sequer um resmungo tribal, sua marca registrada.
-
Fala aí, ó meu! – respondi mansamente – que, explico, não é nem um pouco comum
em minha humilde pessoa.
Feiura
pega. Agora acredito nisso. Não que eu seja ou até aquela tarde chuvosa ou
fosse um exemplar de Adônis nesse pequeno torrão, moradia de mortais como eu.
Muito, muito pelo contrário. Mas aquela relada de ombro me deixou ainda mais
desajeitado, por assim dizer. E fanhoso.
Nem
sei bem porque contei esse encontro inusitado. O assunto era sombra, nuvem e
fotografia.
Sombra,
dizem os sábios, assemelha-se a qualquer defensor, principalmente aqueles... Isso,
esses mesmos. Exatamente esses.
Nuvem,
dizem os intelectuais, se assemelha a qualquer político, principalmente aqueles...
Acertou novamente, esses mesmos. Exatamente esses.
Bom,
fotografia diz sempre Zé da Truta, grande filosófo dessa nossa pequena e
bucólica cidade interiorana, é igual peido. Deixa pra lá. Zé da Truta que discorra sobre esse conceito.
Sei
não, diante disso tudo, aquele casal não me parece tão feioso assim, está mais
pra pouco bonito.
João
Neto
Um comentário:
Lindamente lindas palavras... e, não quero encontrar esse casal, se feiura pega, to mais que ralada... rs
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