quinta-feira, 11 de julho de 2013

Crônica (Sobre sombra, nuvens e fotografias)



Alguém me perguntou se eu entendia de sombra, ou de nuvem...  linguagem cibernética, ou algo assim, segundo o indagador.
Na verdade, não entendo lhufas de sombra ou nuvens.
Outro indagou sobre fotografias. Escura aqui, mais clara ali, mas a esquerda aqui, mais a direita ali. Um pouco pra cima ou um pouco pra baixo.
Tudo bem, até entendi o novo interlocutor.
Porém, mais escura, mais clara, mais a esquerda, mais a direita, mais pra cima, mais pra baixo, e coisitas mais, em relação a quê?
Deixa pra lá, até porque não sou fotógrafo, não é?
Nesta pequena e bucólica cidade interiorana me surpreendi outro dia. Estava eu caminhando pelas ruas, ruas mesmo, não gosto muito de andar nas calçadas não muito simétricas, quando não mais que de repente me deparei frente a frente com um sujeito meio carrancudo, chato mesmo, ofensivo até. Claro, na minha maneira de visualizá-lo caminhando daquele jeito sem jeito, camiseta descolorida cavada, peito despelado, bermuda decorada, chinelos surrados, oleosos cabelos despenteados, barba por fazer, dentes amarelados... enfim, descuidado... e carrancudo, chato mesmo, na acepção da palavra. E, o pior, mandado cem por cento pela companheira que sempre é vista ao seu lado.
E a companheira, então... Vixe! Baixinha, pernas curtas e grossas, cintura mais parecida com uma bola, cabelos curtinhos judiados pelo tingimento semanal na cor entre vermelho fluorescente e marrom debochado, minissaia mais para microssaia, blusinha deixando a saliente barriga de fora e umbigo desaparecido entre dobras e dobras, seios caídos querendo escorregar pelo decote exagerado, estrábica, e tatuagens entre o pescoço e as duas canelas.
- Fala aí, ó meu! – ele me cumprimentou raivosamente com sua voz fanhosa ao passar por mim, relando ombro com ombro,  isto porque a rua em questão é larga a danar.
Sua companheira sequer se dignou a me conceder uma olhadela, um soslaio que fosse. Sequer um resmungo tribal, sua marca registrada.
- Fala aí, ó meu! – respondi mansamente – que, explico, não é nem um pouco comum em minha humilde pessoa.
Feiura pega. Agora acredito nisso. Não que eu seja ou até aquela tarde chuvosa ou fosse um exemplar de Adônis nesse pequeno torrão, moradia de mortais como eu. Muito, muito pelo contrário. Mas aquela relada de ombro me deixou ainda mais desajeitado, por assim dizer. E fanhoso.
Nem sei bem porque contei esse encontro inusitado. O assunto era sombra, nuvem e fotografia.
Sombra, dizem os sábios, assemelha-se a qualquer defensor, principalmente aqueles... Isso, esses mesmos. Exatamente esses.
Nuvem, dizem os intelectuais, se assemelha a qualquer político, principalmente aqueles... Acertou novamente, esses mesmos. Exatamente esses.
Bom, fotografia diz sempre Zé da Truta, grande filosófo dessa nossa pequena e bucólica cidade interiorana, é igual peido. Deixa pra lá.  Zé da Truta que discorra sobre esse conceito.
Sei não, diante disso tudo, aquele casal não me parece tão feioso assim, está mais pra pouco bonito.
João Neto

Um comentário:

Maria Eugênia disse...

Lindamente lindas palavras... e, não quero encontrar esse casal, se feiura pega, to mais que ralada... rs

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