E as duas
senhorinhas conversam. Patati daqui, patatá de lá. Nos copinhos de plástico, sorvete
de massa, morango e limão. As colherinhas de plástico como gangorras levam a
guloseima para deleite das jovens senhoras que conversam sentadas no banco da
praça da matriz da pequena e bucólica cidade interiorana, sob a proteção da
frondosa e centenária árvore.
Primeiro sábado
do mês de julho. Sol e um friozinho irritante. Início da tarde.
Do outro lado da
praça o carrinho azul do vendedor de produtos naturais, raízes e mel silvestre,
todos devidamente empacotados ou em vidros hermeticamente fechados.
Em volta do
carrinho de abas abertas, os frequentadores de sempre.
De repente, não
mais que de repente, surge a poetiza. Cabelos negros, lábios carnudos, pele cor
de jambo, fofinha.
Quando se
aproxima das senhorinhas traz nos lábios o sorriso tímido, sua marca
registrada.
Afe!
Cerca de
duzentos metros acima, a rapaziada na calçada em frente ao bar, sentados em
banquinhos de madeiras, bebem uns goles de cerveja e conversam. Na padaria ao
lado, Zé da Truta em pé na porta. Em sua companhia o poeta baixinho e gordinho.
E eu.
Zé da Truta, sem
mais, sem menos, diz.
- Sonhar não é
preciso, nem escorregar em piso liso – instantaneamente levando o copo de
cerveja até a boca, bebendo todo o líquido amarelo, o que é imitado
incontinenti por mim.
Nosso amigo
poeta vira-se, caminha para o interior da padaria, sentando na cadeira de
formica, debruça-se sobre o balcão e chora compulsivamente.
Faço menção de
ir até lá, mas com um sinal de dedo Zé da Truta indica que devemos ficar ali na
porta.
E o poeta lá
chorando compulsivamente.
A poetiza de
cabelos negros, lábios carnudos, pele cor de jambo, fofinha está vindo em nossa
direção. A rapaziada do bar silencia e ficam a admirar tão singela beleza.
- Com licença –
ela nos pede.
Zé da Truta
permanece estático, enquanto me afasto de lado para que ela passe, deixando seu
perfume impregnado no ar.
Depois de ser atendida
pela balconista a poetiza chega ao caixa, cumprimenta a moça de óculos, pagando
o valor do pudim de leite condensado.
- Com licença –
ela nos pede novamente. Desde vez permaneço parado, mas Zé da Truta continua
estático e, então, me afasto novamente.
A poetisa passa
por nós.
- Obrigado –
agradece com sua voz de sereia, de Iara.
Segundo depois
some na esquina de cima.
E o poeta lá
chorando compulsivamente.
Zé da Truta
então, propõe.
- Outra cerva?
Que seja. Até
porque o poeta baixinho e gordinho já se refez e estica o braço cuja mão segura
o copo vazio em direção do litrão.
“Sonhar não é preciso, nem escorregar no piso
liso. O que será que Zé da Truta quis dizer?” – pergunto a mim mesmo em
pensamento – Obrigado – agradeço quando Zé da Truta enche meu copo com cerveja.
João Neto
Um comentário:
Cada dia melhor! Sou sua fã!
Abraços.
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