quarta-feira, 10 de julho de 2013

Texto (Exclamação)



Você desejou – do fundo do coração – mal a alguém?
Fez desse desejo pensamento e desse pensamento palavras e dessas palavras atos e desses atos esse desejo realizado?
Você desejou – do fundo do coração – bem a alguém?
Fez desse desejo pensamento e desse pensamento palavras e dessas palavras atos e desses atos esse desejo realizado?
Você já amou? Ama?
Em algum sonho por ti sonhado caminhou pelo arco-íris? Pelas ondas do mar banhando a praia de uma ilha desconhecida?
Você já foi amado(a)? Está sendo amado(a)?
Em algum verão de sua vida caminhou de mãos dadas com a pessoa amada sob a chuva refrescante?
Em algum inverno de sua vida ficou com as pernas cobertas com a pessoa amada comendo pipoca e assistindo filme na televisão?
Você brincou de ciranda cirandinha? Brincou de amarelinha? De “pega ladrão”? Empinou pipa num domingo ensolarado? Jogou pião? Bafo?
Você um dia, uma só vez, “furtou” milho verde do milharal do tio mais velho e depois, com a família reunida, fez pamonha, mingau de milho com frango caipira, curau?
Cara, você não fez nada disso?
Então está no lugar errado.
Deveria estar entre grandes empresários, poderosos políticos, luminosos religiosos,  excelentes oradores. Deveria ter feito uma viagem de transatlântico, assistido uma final de copa do mundo de futebol, morar na cobertura do mais luxuoso edifício.
Tudo bem pra ti. Tudo bem. Nas duas faces da moeda talvez esteja entrelinhas o melhor caminho.
Porém, se ficar por aqui...
Fique descalço e caminhe por essa trilha de terra batida, entre árvores frondosas, árvores frutíferas, animais pacíficos.
Vamos conversar sobre poesia, sobre Jesus, vamos ouvir o canto dos pássaros, o ensaio do coral de vozes masculinas e femininas ao lado da cachoeira de águas puras.
Não se preocupe. Tua vestimenta é de linho como a minha. Calça e blusão. Assim se vestem os demais, homens, mulheres, jovens, crianças, idosos, enfim,  todos que vieram aqui distribuir cada um a sua paz.
...
Apagam-se as luzes. Fecham-se as cortinas. A plateia vazia. Os dois atores(trizes) deixam o palco. Acabou a brincadeira. A vida nua e crua ressurge na ilusão de quem não ficou.
...
O sol ilumina as máquinas derrubando o antigo prédio. Não mais teatro, não mais plateia, não mais atores(trizes). A vida continua. Amanhã tem espetáculo sim senhor.
...
Fogos de artifícios iluminam a noite da pequena e bucólica cidade interiorana. Rojões interrompem o silêncio exatamente às vinte horas e vinte minutos. As pessoas achegando.
...
No banco da praça da matriz dois compadres a tudo observam. Está frio. O casaco e o pulôver os aquecem e o boné de lã protege a cabeça quase sem cabelos de cada um.
....
Exclamação – Cadê os homens? Cadê?
João Neto

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