quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Conto (Mané Pequeno anda sumido)

Na sala reservada do bar de Toninho das Perucas estão reunidos os sócios do clube ”Óia os Sessentões Aqui Tráveiz”.
Mirtão, Paulo Sóbrio,  Zico Falador, Tonhão da Catraca, Abelardo das Flores, Ronaldo Fio de Cobre, os irmãos João Perna Torta e José Bicanca, Bino Tarraxa, Melo Miolo Mole e o próprio Toninho das Perucas, que inclusive cerrara as portas do estabelecimento para que a reunião transcorra na calmaria.
Como de costume, cada membro tem à sua frente sua garrafa de cerveja e seu copo, conforme estatuto.
Mané Pequeno anda sumido, por consequência, era o único sócio ausente e novamente o assunto da reunião.
- Ao nosso eterno presidente – saúda Toninho das Perucas, levantando seu copo cheio de cerveja, sendo acompanhado por todos os demais no gesto, bem como na talagada que consome todo o líquido.
Enquanto os copos são reenchidos – eita sô – os homens permanecem em silêncio.
Mirtão está fora de combate. Logo, o clube não pode mais contar com seus serviços de conquistador.
Melo Miolo Mole, que enquanto na ativa tinha faro para localizar  pessoas desaparecidas, procurou pelo presidente nos últimos dias, e nada de nada, mas pediu mais tempo para a empreitada que se apresenta cada vez mais difícil e incomodante.
- Ao nosso eterno presidente – nova saudação e bebericada.
Mané Pequeno anda sumido, o segundo solteiro do clube que se mete em confusões de paixões. Na verdade, o primeiro. Mirtão foi o segundo.
Mirtão está fora de combate. O clube espera que não se baldeie para a conduta de Mané Pequeno.
- Ao nosso eterno presidente – terceira saudação e bebericada.
Palmas em frente ao bar fechado.
Toninho das Perucas se levanta, saindo da sala. Os dez homens restantes enchem seus copos de cerveja, além do copo de Toninho das Perucas.
- Senhores – a voz do mencionado soa entra grave e solene, com leve sotaque preocupativo.
Vinte olhos convergem em direção da porta da sala.
Toninho das Perucas não está só. Se faz acompanhar dela, a sensual mulher de olhos castanhos esverdeados e pele morena e longos cabelos negros 
Até a lagartixa, moradora fixa no local, cessa correria pro lado do vão no forro de madeira, e fixa a porta.
“A mulher é bonita mesmo... mais que bonita linda, mais que linda maravilhosa, mais que maravilhosa única” certamente pensaria ela, se lagartixa pensasse.
Ah! O que lagartixa venha a pensar não é o caso aqui. O fato é que a sensual mulher de olhos castanhos esverdeados e pele morena e longos cabelos negros está na porta, sorriso nos lábios carnudos realçados pelo discreto batom, contemplando dez sujeitos sentados, braço esticado, mão segurando o copo, estáticos, paralisados, atônitos.
- Entra, senhora –  pede gentilmente Toninhos das Perucas – senta à mesa com a gente – oferecendo-lhe uma cadeira na cabeceira.
Imprudente Toninho das Perucas, isso sem contar que está desrespeitando o estatuto no seu mandamento mais sagrado. Mulher não pode estar presente na reunião. Simples e direto esse mandamento.
Então...
- Desculpem-me, moçada, atrasei-me em razão... – Zé da Truta chega esbaforido, entrando de supetão na sala em direção à sua cadeira, sequer percebendo a presença tão ilustre no outro lado da mesa e, quando termina de encher seu copo de cerveja, ao olhar para os demais então percebe que não estão nem aí com ele, rostos voltados pra aquela mulher – Epa! Quem é essa dona? – o “filosófo” pergunta, enquanto leve o copo em direção da boca ávida a recebê-lo.
João Neto

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