Viver, diz Zé da Truta, é como escolher
feijão para cozinhar. Enquanto estamos
neste ato de escolher, separamos o bom e o ruim, diz ele, jogando o ruim no
lixo. Outras opções até podem se apresentar como num leque... mas no fritar dos
ovos restam apenas a clara e a gema no ponto, desde que saiba o que está
fazendo quem está em frente à frigideira (outra frase de Zé da Truta).
Deixemos a cozinha pra lá. O feijão já está
na panela de pressão a pleno vapor, e o óleo na frigideira no fogão de lenha.
Viver, diz Zé da Truta, também é enfrentar
dilemas que surgem à nossa frente num mosaico musical. Continua ele, ora são
melodias melosas, ora melodias alegres, ora fados de torrar a paciência, e por
aí vai. O entrave, conclui, é quanto nossos ouvidos estão aptos a ouvir, sentir
a sonoridade dessas melodias.
Deixemos as canções pra lá. De repente nos
tornemos excelentes dançarinos, não é mesmo?
O que estamos a perceber é que alguém está
sendo fritado lentamente. Alguém com quem uma vez ou outra conversamos por ser
inevitável recusar a conversa,, ou alguém com quem encontramos nos ambientes
que frequentamos e cumprimentamos com um leve sinal de cabeça para evitar maior
aproximação, ou até alguém que mudamos de calçada quando percebemos estar vindo
em nossa direção. Não interessa. Interessa que alguém está sendo fritado.
Deixou de segurar o cabo da frigideira e passou
a ingrediente, ou melhor, o ovo que está para ser quebrado e sua gema e sua
clara fritados.
Viver, diz Zé da Truta, também é fazer amigos,
pedras de barro molhado para nosso estilingue. Não concordo. Nessa ótica de Zé
da Truta, emérito beberrão e “filosófo”, até tenha sentido essa máxima visto
que sua percepção está além de nossa compreensão. Só o amanhã confirmará ou não
tal filosofia.
O que estamos a perceber é que se esse alguém
possa estar pronto para a fritura, talvez a preparação, ou arquitetura, desse
ato ecumênico tenha se principiado em seu círculo de amizade, pois quanto às
demais pessoas, esse alguém é indiferente, aliás, cada vez mais indiferente.
Enfim, independente se acontece numa
megalópole ou numa pequena e bucólica cidade interiorana, o fato é o mesmo.
Quem muito se lambuza no mel chama a atenção
do tamanduá, e abraço desse bicho não é fácil não.
Outra frase de Zé da Truta? Claro. Nosso
emérito beberrão e “filosófo” é muito observador. Num desses sábados à tarde, sentado
tranquilamente num banquinho de madeira na calçada em frente ao “bar mais
antigo da cidade”, saboreando sua bebida preferida, cerveja, quando essa pessoa passou imponente em seu veículo reluzente, Zé da Truta disse em relação à ela, “espero
que sua mastodonte sabedoria a faça entender que essa efêmera claridade descarregará rapidamente a
bateria de sua exposição pública e, mais certo que
o dia e noite são gêmeos univitelinos, não terá como recarrega-la ou
substitui-la, bem como, em razão dessa imponência toda, não encontrará ninguém para lhe fornecer combustível para reacender o esquecido candeeiro da esperança de voltar a ser o que um dia foi”.
Corte rápido.
João Neto
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