segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Crônica (Escolher feijão, fritar ovo e a mastodonte sabedoria)

Viver, diz Zé da Truta, é como escolher feijão para cozinhar.  Enquanto estamos neste ato de escolher, separamos o bom e o ruim, diz ele, jogando o ruim no lixo. Outras opções até podem se apresentar como num leque... mas no fritar dos ovos restam apenas a clara e a gema no ponto, desde que saiba o que está fazendo quem está em frente à frigideira (outra frase de Zé da Truta).
Deixemos a cozinha pra lá. O feijão já está na panela de pressão a pleno vapor, e o óleo na frigideira no fogão de lenha.
Viver, diz Zé da Truta, também é enfrentar dilemas que surgem à nossa frente num mosaico musical. Continua ele, ora são melodias melosas, ora melodias alegres, ora fados de torrar a paciência, e por aí vai. O entrave, conclui, é quanto nossos ouvidos estão aptos a ouvir, sentir a sonoridade dessas melodias.
Deixemos as canções pra lá. De repente nos tornemos excelentes dançarinos, não é mesmo?
O que estamos a perceber é que alguém está sendo fritado lentamente. Alguém com quem uma vez ou outra conversamos por ser inevitável recusar a conversa,, ou alguém com quem encontramos nos ambientes que frequentamos e cumprimentamos com um leve sinal de cabeça para evitar maior aproximação, ou até alguém que mudamos de calçada quando percebemos estar vindo em nossa direção. Não interessa. Interessa que alguém está sendo fritado.
Deixou de segurar o cabo da frigideira e passou a ingrediente, ou melhor, o ovo que está para ser quebrado e sua gema e sua clara fritados.
Viver, diz Zé da Truta, também é fazer amigos, pedras de barro molhado para nosso estilingue. Não concordo. Nessa ótica de Zé da Truta, emérito beberrão e “filosófo”, até tenha sentido essa máxima visto que sua percepção está além de nossa compreensão. Só o amanhã confirmará ou não tal filosofia.
O que estamos a perceber é que se esse alguém possa estar pronto para a fritura, talvez a preparação, ou arquitetura, desse ato ecumênico tenha se principiado em seu círculo de amizade, pois quanto às demais pessoas, esse alguém é indiferente, aliás, cada vez mais indiferente.
Enfim, independente se acontece numa megalópole ou numa pequena e bucólica cidade interiorana, o fato é o mesmo.
Quem muito se lambuza no mel chama a atenção do tamanduá, e abraço desse bicho não é fácil não.
Outra frase de Zé da Truta? Claro. Nosso emérito beberrão e “filosófo” é muito observador. Num desses sábados à tarde, sentado tranquilamente num banquinho de madeira na calçada em frente ao “bar mais antigo da cidade”, saboreando sua bebida preferida, cerveja, quando essa pessoa passou imponente em seu veículo reluzente, Zé da Truta disse em relação à ela, “espero que sua mastodonte sabedoria a faça entender que essa efêmera claridade descarregará rapidamente a bateria de sua exposição pública e, mais certo que o dia e noite são gêmeos univitelinos, não terá como recarrega-la ou substitui-la, bem como, em razão dessa imponência toda, não encontrará ninguém para lhe fornecer combustível para reacender o esquecido candeeiro da esperança de voltar a ser o que um dia foi”.

Corte rápido.
João Neto

Nenhum comentário:

Postar um comentário