domingo, 1 de setembro de 2013

Religião (Evangelhos Sinóticos - Introdução)



Dos quatro livros canônicos que relatam a “Boa Nova” (sentido do termo “evangelho”) trazida por Jesus Cristo, os três primeiros apresentam entre si tais semelhanças que podem ser colocados em colunas paralelas e abarcados “com um só olhar”, de onde seu nome de “Sinóticos”.
Mas eles oferecem também entre si numerosas divergências.
Como explicar ao mesmo tempo tais semelhanças e divergências?
Isso equivale a perguntar: como se constituíram?
Para compreender isso, é preciso admitir em primeiro lugar que antes de ter sido colocados por escrito, os evangelhos, ou ao menos grande número dos materiais  que eles contêm, foram transmitidos oralmente.
No princípio houve a pregação oral dos apóstolos, centrada em torno do “querigma” que anuncia a morte redentora e a ressurreição do Senhor. Ela se dirige aos judeus, aos quais era necessário provar, graças aos testemunhos dos apóstolos a respeito da ressurreição, que Jesus era de fato o Messias anunciado pelos profetas de outrora; ela terminava com o apelo à conversão. Desta pregação, os discursos de Pedro nos Atos dos apóstolos fornecem resumos típicos (At 4, 8-12, mais desenvolvidos em 3, 12-26; 2, 14-36 e sobretudo 13, 16-41) como também Paulo em 1Cor 15, 3-7.
Conforme Lucas 24, 44-48, este “querigma” fundamental se enraizaria já nas ordens do Cristo ressuscitado. Mas, àqueles que se convertiam, era preciso dar, antes que recebessem o batismo, ensinamento mais completo da vida e do ensinamento de Jesus.
Um resumo desta catequese pré-batismal nos é dado em At 10, 37-43, cujo esquema anuncia já a estrutura do evangelho de Marcos: batismo dado por João durante o qual Jesus recebeu o Espírito, atividade taumatúrgica de Cristo na terra dos judeus, sua crucifixão seguida de sua ressurreição e de suas aparições a alguns discípulos privilegiados, sendo o todo garantido pelo testemunho dos apóstolos.
Tudo isso, segundo os Atos, provém ainda da pregação oral. Muito cedo ainda, para ajudar os pregadores e os catequistas cristãos, foram reunidas por temas comuns as principais “palavras” de Jesus.
Delas temos ainda resquícios em nossos evangelhos atuais: tais “palavras” estão frequentemente ligadas entre si por palavras-gancho a fim de favorecer a memorização.
Na Igreja primitiva havia também narradores especializados, como os “evangelistas” (At 21, 8; Ef 4, 11; 2Tm 4, 5) que relatavam as lembranças evangélicas sob uma forma que tendia a se fixar pela repetição.
 Sabemos também, graças a dois testemunhos independentes, que o segundo evangelho foi pregado por Pedro antes de ter sido escrito por Marcos. E Pedro não foi a única testemunha ocular a anunciar Cristo; os outros não tinham certamente necessidade de documentos escritos para ajudar sua memória.
CONTINUA (próximo dia 08.09.2013)
(transcrição da Introdução aos Evangelhos Sinóticos - Bíblia de Jerusalém, Paulus Editora,  edição 2002, 2ª impressão, 2003, página 1689 e seguintes)

João Neto

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