Dos
quatro livros canônicos que relatam a “Boa Nova” (sentido do termo “evangelho”)
trazida por Jesus Cristo, os três primeiros apresentam entre si tais
semelhanças que podem ser colocados em colunas paralelas e abarcados “com um só
olhar”, de onde seu nome de “Sinóticos”.
Mas
eles oferecem também entre si numerosas divergências.
Como
explicar ao mesmo tempo tais semelhanças e divergências?
Isso
equivale a perguntar: como se constituíram?
Para
compreender isso, é preciso admitir em primeiro lugar que antes de ter sido
colocados por escrito, os evangelhos, ou ao menos grande número dos
materiais que eles contêm, foram
transmitidos oralmente.
No
princípio houve a pregação oral dos apóstolos, centrada em torno do “querigma”
que anuncia a morte redentora e a ressurreição do Senhor. Ela se dirige aos
judeus, aos quais era necessário provar, graças aos testemunhos dos apóstolos a
respeito da ressurreição, que Jesus era de fato o Messias anunciado pelos
profetas de outrora; ela terminava com o apelo à conversão. Desta pregação, os
discursos de Pedro nos Atos dos apóstolos fornecem resumos típicos (At 4, 8-12,
mais desenvolvidos em 3, 12-26; 2, 14-36 e sobretudo 13, 16-41) como também
Paulo em 1Cor 15, 3-7.
Conforme
Lucas 24, 44-48, este “querigma” fundamental se enraizaria já nas ordens do
Cristo ressuscitado. Mas, àqueles que se convertiam, era preciso dar, antes que
recebessem o batismo, ensinamento mais completo da vida e do ensinamento de
Jesus.
Um
resumo desta catequese pré-batismal nos é dado em At 10, 37-43, cujo esquema
anuncia já a estrutura do evangelho de Marcos: batismo dado por João durante o
qual Jesus recebeu o Espírito, atividade taumatúrgica de Cristo na terra dos
judeus, sua crucifixão seguida de sua ressurreição e de suas aparições a alguns
discípulos privilegiados, sendo o todo garantido pelo testemunho dos apóstolos.
Tudo
isso, segundo os Atos, provém ainda da pregação oral. Muito cedo ainda, para
ajudar os pregadores e os catequistas cristãos, foram reunidas por temas comuns
as principais “palavras” de Jesus.
Delas
temos ainda resquícios em nossos evangelhos atuais: tais “palavras” estão
frequentemente ligadas entre si por palavras-gancho a fim de favorecer a
memorização.
Na Igreja
primitiva havia também narradores especializados, como os “evangelistas” (At 21,
8; Ef 4, 11; 2Tm 4, 5) que relatavam as lembranças evangélicas sob uma forma
que tendia a se fixar pela repetição.
Sabemos também, graças a dois testemunhos
independentes, que o segundo evangelho foi pregado por Pedro antes de ter sido
escrito por Marcos. E Pedro não foi a única testemunha ocular a anunciar
Cristo; os outros não tinham certamente necessidade de documentos escritos para
ajudar sua memória.
CONTINUA (próximo dia 08.09.2013)
(transcrição da
Introdução aos Evangelhos Sinóticos - Bíblia de Jerusalém, Paulus Editora, edição 2002, 2ª impressão, 2003, página 1689 e
seguintes)
João Neto
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