quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Crônica (Os pescadores)


 

Espero que não acredite em caveira da morte... (acredita? não? Óia, óia).

Também não dê uma de modernoso, corajoso.

Por cautela não saia à noite, mas se sair, antes da meia-noite volte pra casa.

Eu ajo assim... (medo? Ará... acertou!).

Não se pode abusar, não é verdade?

Em todo caso, em razão do assunto, lembrei-me de um acontecido.

Naquele começo de noite de quarta-feira para quinta-feira da última semana do mês de fevereiro de um ano qualquer, dois amigos estão pescando.

Não se encontram muito distante da cidade, o que lhes possibilita visualizar suas luzes clareando o céu, assim como as estrelas iluminam as águas do açude.

Permanecem em silêncio, pois as traíras não demonstram vontade de abocanhar as minhocas transpassadas nos anzóis.

Chovera nos dias anteriores, mas naquela hora o clima está ameno.

Sentados cerca de nove metros um do outro, se é que se pode medir com tanta exatidão essa distância, mas é costume de anos deixarem esse espaço entre eles, estão atentos, olhos fixos na ponta da vara.

Nada.

- Falou comigo?

O outro não responde.

Nove segundos depois, a pergunta novamente:

- Falou comigo?

- Não – a resposta é lacônica.

Nove segundos depois, em pé na relva, segurando firme a vara, o argumento:

- Se não falou comigo como diz, então um fantasma falou comigo, pois alguém falou comigo, disso tenha certeza.

- Quieto – é a manifestação do amigo de pescaria.

Nove segundos depois.

- Falou comigo?

- Da mesma maneira que você diz que não falou comigo, eu digo que não falei contigo.

- Tá certo.

Nove segundos depois.

- Falou comigo?

- Não, não falei contigo. Disse e repito... Não, não falei contigo.

Resumindo. Se não fosse pelo espoucar ensurdecedor dos rojões na cidade, pegando-os de surpresa, os dois amigos atentos na pescaria, certamente teriam ouvido aquela voz lúgubre, soturna, saída do nada:

- Daqui nove dias eu passo para te buscar.

Verdade seja dita, sentiram uma friagem na espinha. Mas não deram muita importância.

Quanto à “rojãozeira”, tomaram conhecimento do motivo daquela festança toda somente no finalzinho da tarde seguinte, quando foram até a praça papear com a rapaziada.
 
(João Neto)

 

 

 

Crônica (Divagações no balcão do bar)



- Até porque eu não sei quem seja quem quer que seja. Eita sô!

- Se não sei quem seja quem quer que seja como saberei quem é quem quer que seja. Afe!

- Tá danado! O motivo? Ultimamente estou batendo asas tal qual o mosquito.

- Porque insisto no amor fraternal... Sou hermafrodita ou algo que o valha. 1º de Abril.

- O sujeitinho vestindo camisa com as três cores está em cima do muro.

- Alguém esqueceu o título de eleitor em cima do balcão? Quem? Quem? Sei lá.

- Como dizia o poeta: é a vida, é a vida e é a vida.

- Bebi a décima segunda dose de pinga. 

- Quem diria que filosofia é folia.

- Filosofia é folia... Sei, sei. Folia é que é filosofia.

- Deve ser verdade, deve ser verdade... Mas também pode ser mentira...  Esquece.

- Se alguém falou é porque alguém escutou. Eita! “Branquinha” da brava essa.

- Está certo...  Repito: E... Esse... Te... A... Ce... E... Erre... Te... O.  Está Certo?

- Se alguém disse “cara chato”, e eu não ouvi... Que venha o eco.

- Sou alfabetizado e tudo o mais...  Resumindo, sejamos sinceros, e daí?

- Alguém insiste em dizer que sou uma pessoa pecadora...  Credo. Eu sei.

- Alguém poderia teologizar o que é pecado insípido, inodoro e incolor?

- Não me condenem...  Quem nos julgará está acima de nossa compreensão.

- Não gritem... Também sei gritar.

- A quem disse que sou uma pessoa pecadora...  Coce seu umbigo.

- Quem diria? Não sou sem teto.

- Alguém muito santo afirmou “no reino do meu Pai existem muitas moradas”.

- Eu não estou aqui pra agradar... Aliás, pra que?... Também não quero agrado.

- Chameguinho falso cai bem desde que seja no gato siamês.

- Gerar, cordão umbilical. Gerar? Cordão umbilical? Deixa pra lá.

- Hoje estou assim malemá... Que dia é hoje?

- Não estou usando cueca... Epa! Compromisso: comprar cueca samba-canção amanhã.

- Stop (do “ingrêis” conheço só essa). Noutro dia continuo... Bebadaço como hoje.

- De onde surgiu o sujeito trajado de arco-íris sentado aqui do meu lado?

- Até porque de tanto ficar sentado neste banquinho tá doendo meu traseiro.

- O velhinho de barba branca e roupa vermelha que está detrás do balcão me fuzila com o olhar...

- Hora de fechar o boteco talvez?

(João Neto)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Crônica (O prêmio)


 
“É o visitante 100.001. Parabéns. Nosso gerador numérico selecionou você como um possível ganhador de uma...”.

Na tela em letras coloridas e garrafais, o anúncio tendo como pano de fundo a imagem aérea de Paradise City, pequena e bucólica cidade incrustada às margens do famoso e turístico lago de mesmo nome, em língua pátria.

A menina, na espontaneidade de seus dez anos, largando o notebook cor de rosa aberto sobre a cama ainda desfeita, num salto fica em pé e sai proclamando pelo interior da casa localizada na Vila dos Anjos, abastado bairro de classe média e novíssimos moradores da localidade mencionada (tosse, tosse).

 - Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.

Primeiramente passa pela porta do quarto do primogênito, sentado em frente ao computador.

- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.

Ele, na indolência de seus treze anos, parece não perceber sua presença e muito menos ouvi-la, pois não desprega os olhos da tela e sequer mexe as orelhas (?). E de pouco adiantaria se percebesse ou ouvisse, pois ela não está mais ali e nem aí, continuando em sua peregrinação.

- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.

O homem trajado todo de branco, confortavelmente acomodado na poltrona de couro marrom, dá uma olhadela para a menina que saltitante cruza pela sala, retornando sua atenção, circunspeto como sempre, para a extensa petição em seu colo.

- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.

A pequena mulher que, auxiliada por sua bela funcionária, está perfilando oito homenzinhos de latão e uma só mocinha de lata em seus respectivos assentos na mesinha de brinquedo sobre a mesa de madeira de lei onde dali a instantes será servida a lauta refeição aos convivas, fica a contemplar o bailado inocente da menina até que atravesse a copa/cozinha em direção da porta, alcançando o higienizado quintal com seu piso de cinco cores.

- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade.

De sua casinha de tijolos a vista com telhado oriental e piso de cimento queimado, o cão labrador por nome Divino observa com certa curiosidade aquele bailar. Deixando o saboroso osso de lado, decide participar por alguns minutos da lúdica farra.

- Ganhei uma cidade, ganhei uma cidade - a menina canta, demonstrando toda sua alegria por ter companhia.

Divino, faceiro e saltitante, late ao seu redor ao mesmo tempo tentando morder o próprio rabo.

Afe.
 
(João Neto)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Crônica (A intervenção)



- Senhor presidente, senhor presidente...

O tom elevado da voz, que traz em si angustiante ansiedade, provoca um silêncio sepulcral, deixando os presentes estupefatos.

Incluindo o presidente, que retorna ao mundo dos vivos quando beliscado pela competente funcionária da casa, postada à esquerda.

No plenário os frequentadores assíduos, não mais que seis não menos que cinco, se agitam nas confortáveis cadeiras almofadadas, o nervosismo tomando conta de seus espíritos de cidadãos, pois claramente estão a testemunhar a primeira intervenção histórica da atual legislatura.

O experiente 1º secretário se ajeita na cadeira de couro de design ultramoderno e ortopédico (Ortopédico!? Deixa pra lá, mas é o que está escrito na nota fiscal), mantendo a costumeira postura, e talvez em razão dela, disfarça que está curioso pelo motivo daquela intempestiva e não combinada intervenção.

 O neófito 2º secretário, ainda não afeito aos trabalhos da casa,  não percebe o acontecido, enrolado que está com alguns papéis à sua frente.

Os três colegas à direita e os três colegas à esquerda ficam atentos, pois aquela intervenção poderia agitar a sessão que transcorre morna como sempre... mais pra fria. Gélida, na verdade.

Até porque todos, exceto os cinco ou seis frequentadores assíduos (seria inusitado se tivessem sido convidados), aguardam com ansiedade seu término para dirigirem-se até a pizzaria mais charmosa da cidade, onde um rodízio especial regado a vinho e sucos os aguarda em comemoração ao aniversário da bela moça responsável pela limpeza da casa de leis que exerce a função de responsável pelos trabalhos originários (convenhamos, nomenclatura original), aliás, que não estaria presente, pois, quinze minutos após ter dividido uma fatia de bolo de fubá com queijo com um dos edis, fora levada as pressas e internada na única casa de saúde existente na localidade com uma danada de diarreia.

E a voz prossegue:

-... preciso me ausentar urgentemente para ir ao banheiro.
 
                       Afe.       

                          (João Neto)                                                                      

Pesquisa


POPULAÇÃO PRISIONAL

atualizada em 04/02/13

                                                                                                     João Neto

Penitenciária. "Cabo PM Marcelo Pires da Silva", de Itaí

Coordenadoria da Região Noroeste

Regime: fechado

Capacidade: 792

População: 1404

Ala de Progressão Penitenciária

(anexa à penitenciária)

Regime: x-x-x-x-

Capacidade: 108

População: 124

Ficha Técnica

Área construída: 1.354,90 m²
Data de inauguração: 29/08/2000


FONTE: www.sap.sp.gov.br (site da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo)

 

 

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

EM TEMPO: O custo de um preso em São Paulo é estimado em cerca de R$ 1,3 mil (mil e trezentos reais) por mês, considerando gastos com saúde, alimentação, higiene e salário daqueles que trabalham no presídio.
Essa informação circulou pela mídia entre 2011 e 2012, com a ressalva, dados apresentados pelo governo estadual. 

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Crônica (Contemplando o mar)


Conheci o mar com quinze anos. Praia Santa Terezinha, Pontal do Paraná,  estado do mesmo nome.
Sei disso, trata-se de um acontecimento corriqueiro na vida das pessoas,  como também sei que muitos sequer usufruirão as delícias da praia de água doce mais próxima.
Quanto a mim, dentre muitas lembranças, tem aquela do meu embasbacamento ao contemplar o mar pela primeira vez e, mesmo estando em êxtase diante daquela imensidão de água, ter estranhado sua cor: não era azul.
Ao menos aos meus olhos de adolescente que nunca tinha saído de sua pequena cidade interiorana.
Fiquei naquela contemplação por alguns segundos. Ah! Acredite, não deu outra.
Aproveitei aqueles cinco dias com intensidade, e, como dizem os antigos, refestelei-me até o último segundo. A cor do mar que ficasse a cargo de quem por ela se interessasse, pintor ou cientista.
A vida continuou, estive em muitas praias. Mas tenho comigo que não sou praieiro.
Recordo que anos depois, eu já adulto residindo nesta pequena e bucólica cidade, em certa ocasião conversava com duas pessoas na calçada em frente à residência de uma delas, e estava prestes a mencionar um fato engraçado acontecido naquele verão em Ilha Comprida, litoral de São Paulo, quando se juntou a nós um comerciante ainda jovem do ramo de confecção e, sem pedir licença, perguntou para um dos participantes de nossa rodinha, também um jovem comerciante no ramo de alimentos, sobre sua viagem a Porto Seguro, Bahia, da qual retornara no dia anterior.
Notamos, eu e o outro ouvinte, que, enquanto discorria prazerosamente sobre sua tão importante e definitiva viagem, seu indagador sorriu irônico, olhando de viés para nós.
Achei engraçado aquele momento, e segundos depois de desfazermos a roda, cada um tomando seu rumo, me esqueci daquela conversa.
Até porque nem naqueles tempos, muito menos agora, tenho interesse e condições financeiras de conhecer Porto Seguro. Prefiro a praia de água doce distante uns vinte quilômetros de minha casa.
Mar porque estou eu a recordar essas besteiras todas?
Corte rápido.
Nestes últimos dias testemunhei e tomei conhecimento de alguns acontecimentos ocorridos na pequena e bucólica cidade onde vivo.
Muita gente, como eu, quando se vê de frente pela primeira vez com algo tão imenso como o mar se surpreende com a cor.
Até então não poderia saber ser real aquela cor que antes sonhara ser azul e azul via nos mapas e no globo terreste de sua escola.
E muitos indivíduos, menosprezando as experiências vividas pelas demais pessoas, tal como aqueles dois comerciantes, se julgam e agem como se fossem o suprassumo da experiência de vida pública ou particular, esquecendo-se que apenas possuem, ou não, alguma quilometragem a mais, e que estamos numa mesma estrada e o destino é comum a todos.
Sem exceção.
(João Neto)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Crônica (Ninfas brincando na varanda)



Passeando num local distante, o boto observa duas ninfas brincando na varanda da casa assobradada na beira da lagoa da mata fechada. Pernas cruzadas, sentadas frente a frente, mãos espalmadas batendo nas da outra, salteados os versos declamam.


Quem errar repete de novo

Depois fica de castigo dentro do ovo

Se tudo acertar pode o ovo quebrar

Nove pares na porta da ampla sala

A sombra de cada assim nos fala

O primeiro de branco trajado

Entrou mudo, saiu calado

Nos olhos, o ébrio

A segunda com cara de brava

Entrou furibunda, saiu enfezada

Nos olhos, o perigo

A terceira jovem apessoada

Entrou garbosa, saiu desbotada

Nos olhos, o mistério

A quarta de pescoço encolhido

Entrou sisuda, saiu no cochilo

Nos olhos, o conflito

A quinta cheia de etiqueta

Entrou porreta, saiu posuda

Nos olhos, o inventário

A sexta pimenta malagueta

Entrou marrenta, saiu poluta

Nos olhos, o temerário

A sétima chegou repaginada

Entrou calada, saiu muda

Nos olhos, o tédio

A oitava em plena folastria

Entrou temente, saiu confusa

Nos olhos, o credo

A nona trazendo empatia

Entrou moderada, saiu difusa

Nos olhos, o prego
 

Rindo a valer porque fizeram tudo certo, as ninfas quebram o ovo. Então, descruzando as pernas, ficam em pé, e, acenando ao boto em despedida, entram na casa e hermeticamente fecham a porta.

O dia ensolarado escurece. E chove.

E o boto nas águas do rio desaparece.
 
(João Neto)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Crônica (Nuvem negra sobre a cabeça)



Sexta-feira, onze horas.

No ponto de ônibus da vila periférica da pequena e bucólica cidade interiorana, o cidadão está aguardando o transporte coletivo.

Aproximando-se do local, a moça percebe sua cara de poucos amigos, enfezado mesmo. Antes que se aproxime mais, o cidadão fica em pé, deixando o abrigo, caminhando até o meio da rua asfaltada.

Neste exato momento, a moça já preocupada em ter que ficar ao lado dele até a chegada do ônibus, visualiza uma nuvem negra pairando sobre a cabeça do cidadão que, e isso quase a paralisa, está andando em círculo. Ela diminui as passadas, pois agora restam menos de cinco metros até a guarita.

Cautelosamente procura desviar do cidadão, mas, talvez em razão de sua juventude, a moça sente curiosidade, pois a tal nuvem negra paira sobre a cabeça do mesmo, de mais ninguém, aliás, o acompanha enquanto anda em círculos gesticulando com os braços, ora apontando para o céu, ora para o chão, ora esticando-os para frente.

Como está a menos de dois metros dele, ouve sua voz rouca:

- Não é possível, não é possível.

A moça observa-o mais atentamente. Traja camisa branca de manga comprida e calça preta, limpas e de bom corte, sapato preto brilhando de lustrado, cabelos curtos penteados, barba feita.

Ele continua andando em pequenos círculos no meio da rua, resmungando.

- Não é possível, não é possível.

Agora tão próxima, a moça nota que a nuvem negra sobre a cabeça dele até que não é assustadora. No máximo, um evento diferente.

Ao cruzar por ele que continua os resmungos, sequer é notada.

- Não é possível, não possível - os resmungos formam uma ladainha.

Sentada e protegida do sol pela sombra da guarita, a moça  agora está sentindo certa simpatia pelo cidadão.

Corte rápido.

 - O que é essa nuvem negra sobre sua cabeça?

A moça, surpreendida pela pergunta da patroa, corre até o espelho do banheiro da loja de roupas.

Pode isso?
 
(João Neto)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Crônica (Desgraça nunca vem sozinha)



- Fato lamentável ontem lá na Bolívia...

- É.

- Triste.

- É.

Os dois velhos amigos conversam na calçada, esquina da praça em frente à igreja matriz da pequena e bucólica cidade.

Atravessando a rua fica a sorveteria mais frequentada pelos moradores.

Os dois amigos encontraram-se por acaso, até em razão do horário, logo depois do almoço.

O assunto é o trágico acontecimento na partida de futebol na noite anterior, onde um torcedor boliviano de 14 anos fora vitimado mortalmente por disparos de rojões.

- O futebol não é mais como antigamente.

- É.

Numa das mesas da sorveteria encontra-se uma proeminente figura local degustando uma taça de “Banana Split”.

Quinta-feira calorenta.

Em dado momento, quase sem querer, essa figura proeminente percebe aqueles dois amigos conversando.

Não se sabe se em razão de sua profissão, ou por estar (não ser) na cúpula política do município, ou por curiosidade mesmo, fica a observá-los.

- Como pode acontecer isso, não é?

- É.

- Não pode ser coisa de Deus, não é?

- É.

A imponente figura proeminente não se aguenta, deixando a guloseima consumida pela metade sobre a mesa, levantando, despedindo-se das funcionárias, eleitoras, menos o caixa, proprietário do estabelecimento, eleitor no município vizinho ao norte (sempre procurou ser bem informada essa imponente figura proeminente). Atravessando a rua, aproxima-se dos conversadores.

- É o fim dos tempos. Tá na Bíblia.

- É.

- E ainda dizem que o homem tem solução...

A imponente figura proeminente achega-se neste exato momento.

- Bom dia.

- Bom dia - responde o mais falante.

O outro retribui ao cumprimento com um movimento da cabeça.

- Calor –  a imponente figura proeminente procura puxar assunto.

- Verdade, quente mesmo. Talvez a tarde chova.

- É.

Ela continua:

-  Certamente estarão atentos amanhã ao programa de rád... – mas é interrompida.

- Amanhã? Programa? Atentos?

Antes que a imponente figura proeminente continue, o senhor monossilábico fala:

- É. Desgraça nunca vem sozinha.

Corte rápido.
 
(João Neto)

 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Crônica (Férias e pescaria)



- “Rapaiz do céu”, é o dia, é o dia.

O moço todo esbaforido senta no banquinho de madeira ao lado do amigo e companheiro de trabalho, respirando fundo e tomando fôlego.

- Emenengarda, manda uma “gelada” – ele pede à fogosa balconista.

Emenengarda faz sinal de positivo, e, lépida e faceira, segundos depois está depositando o litrão estupidamente gelado no banquinho entre os dois jovens, recolhendo a garrafa vazia, deixando-os à vontade.

- Obrigado – agradece o rapaz, com o fôlego retomado, enchendo seu copo e do amigo. Depois de brindarem, os esvaziam num gole só, colocando-os ao lado da litrão, enquanto olham o movimento de carros e pessoas pelas calçadas e rua da região central da pequena e bucólica cidade.

Emenengarda, atrás do balcão, observa-os, curiosa.

- “Rapaiz do céu”, é o dia, é o dia.

Vai entender. Dia ensolarado, três horas da tarde de uma quinta-feira, mês de fevereiro do milionésimo décimo terceiro ano do Senhor, ambos de férias, sentados em banquinhos de madeira, defronte ao bar mais conhecido e frequentado da cidade. Ará sô, o que haveria de perturbar tão aprazível momento?

Com o copo novamente cheio na mão, os jovens permanecem em silêncio, na contemplação etílica daquele cenário tão interiorano.

- “Rapaiz do céu”, é o dia, é o dia – a ladainha interrompe a paz que se faz presente.

Prazerosamente o outro jovem continua sorvendo o líquido amarelo, aparentando não dar muita importância ao som semelhante coinchar do seu lado.

Emenengarda surge do interior do bar trazendo um pratinho de plástico com porção de mandioca frita e outro litrão.

- Tá nervoso? – pergunta descaradamente ao jovem.

 - Tô não – responde ele, aparentando surpreso - Qual o motivo da pergunta?

- Ora, fica aí repetindo “é o dia, é o dia”.

- Pois é o dia, “rapaiz do céu”.

Emenengarda sorri graciosamente. Está acostumada em ser chamada assim por ele, aliás, que trata quem quer que seja dessa maneira.

- E...?

- Você acreditaria que daqui algumas horas a corvina beliscará a isca? “Rapaiz do céu”, é o dia, é o dia, a pescaria promete, a pescaria promete.

Emenengarda discretamente balança a cabeça da esquerda para direita e da direita para a esquerda enquanto retorna ao interior do estabelecimento, levando a garrafa vazia numa das mãos.

“E eu lá quero saber de pescaria”, pensa com seus botões.

Os dois jovens dividem o último pedaço de mandioca frita, enquanto contemplam os carros e pessoas transitando num número cada vez maior.
 
 
(João Neto)

 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Pesquisa


Itaí - SP

Histórico

Os fazendeiros estabelecidos junto à foz do rio Taquari (extensão: 117 km, nascente: Itapeva, Foz: Rio Paranapanema), tinham dificuldades de abastecimento e comercialização de seus produtos devido a grande distância da povoação mais próxima, Faxina (atual Itapeva).

Assim, em 1869, Salvador de Freitas, José Silveira de Melo, Manoel Pedroso de Oliveira e Capitão José Floriano, fundaram na encosta da Serrinha, próximo ao ribeirão dos Carrapatos, um povoado com o nome de Santo Antônio da Ponta da Serra, denominação escolhida em homenagem ao Padroeiro e para definir a posição ocupada pelo núcleo.

Os 40 alqueires do patrimônio foram adquiridos por Salvador de Freitas. Aí se construiu uma capela, seguida das primeiras casas.

A povoação vizinha, Bom Sucesso (atual Paranapanema), que também começava a se formar, foi elevada à categoria de freguesia, passando Santo Antônio da Ponta da Serra a integrar seu território, a partir de março de 1874.

Um mês depois, foi criada na povoação de Santo Antônio das Pedras, a freguesia de Santo Antônio da Boa Vista, passando a ser adotado esse último nome para o antigo núcleo.

Em 1920, passou a denominar-se Itaí, que em tupi-guarani significa pedra do rio ( "ita"= pedra +"y"= rio).

Gentílico

Itaiense

Formação Administrativa

Freguesia criada com a denominação de Santo Antônio da Boa Vista, por lei provincial nº 42, de 16-04-1874, subordinado ao município de Faxina.

Elevado à categoria de vila com a denominação de Santo Antônio da Boa Vista, por decreto-­lei estadual nº 163, de 01-05-1891, desmembrado de Faxina.

Sede na vila Santo Antônio da Boa Vista. Constituído do distrito sede. Instalado em 29-05-1891.

Elevado à categoria de cidade, pela lei estadual nº 1038, de 19-12-1906.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município é constituído de 2 distritos: Santo Antônio da Boa Vista e Caputera.

Pela lei estadual n.º 1748, de 25-11-1920, o município de Santo Antonio da Boa Vista passou a denominar-se Itaí.

Pela lei estadual nº 2308, de 13-12-1928, transfere o distrito de Caputera do município de Itaí para o de Faxina.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o município de Itaí é constituído do distrito sede.

Pelo decreto-lei estadual nº 6530, de 03-07-1934, o município de Bom Sucesso é conduzido a categoria de distrito, sendo seu território anexado do município de Itaí.

Em divisões territoriais datadas de 31-12-1936 e 31-12-1937, o município é constituído de 2 distritos: Itaí e Bom Sucesso.

No quadro fixado para vigorar no período 1939-1943, o município de Itaí é constituído de 2 distritos: de Itaí e Bom Sucesso.

Pelo decreto-lei estadual nº 14344, de 30-11-1944, desmembra do município de Itaí o distrito de Bom Sucesso. Elevado à categoria de município com a denominação de Paranapanema.

No quadro fixado para vigorar no período de 1944-1948, o município de Itaí é constituído do distrito sede.

Em divisão territorial

Datada de 01-07-1960, o município é constituído do distrito sede.

Assim permanecendo em divisão territorial datada de 14-05-2001.

Alteração toponímica municipal

Santo Antonio da Boa Vista para Itaí, teve sua denominação alterada, por lei estadual nº 1748, de 25-11-1920.

 

(fonte: IBGE), exceto inserção em vermelho.