Também não dê
uma de modernoso, corajoso.
Por cautela
não saia à noite, mas se sair, antes da meia-noite volte pra casa.
Eu ajo
assim... (medo? Ará... acertou!).
Não se pode
abusar, não é verdade?
Em todo caso, em
razão do assunto, lembrei-me de um acontecido.
Naquele começo
de noite de quarta-feira para quinta-feira da última semana do mês de fevereiro
de um ano qualquer, dois amigos estão pescando.
Não se
encontram muito distante da cidade, o que lhes possibilita visualizar suas
luzes clareando o céu, assim como as estrelas iluminam as águas do açude.
Permanecem em
silêncio, pois as traíras não demonstram vontade de abocanhar as minhocas
transpassadas nos anzóis.
Chovera nos
dias anteriores, mas naquela hora o clima está ameno.
Sentados cerca
de nove metros um do outro, se é que se pode medir com tanta exatidão essa
distância, mas é costume de anos deixarem esse espaço entre eles, estão
atentos, olhos fixos na ponta da vara.
Nada.
- Falou
comigo?
O outro não
responde.
Nove segundos
depois, a pergunta novamente:
- Falou
comigo?
- Não – a
resposta é lacônica.
Nove segundos
depois, em pé na relva, segurando firme a vara, o argumento:
- Se não falou
comigo como diz, então um fantasma falou comigo, pois alguém falou comigo,
disso tenha certeza.
- Quieto – é a
manifestação do amigo de pescaria.
Nove segundos
depois.
- Falou
comigo?
- Da mesma
maneira que você diz que não falou comigo, eu digo que não falei contigo.
- Tá certo.
Nove segundos
depois.
- Falou
comigo?
- Não, não
falei contigo. Disse e repito... Não, não falei contigo.
Resumindo. Se
não fosse pelo espoucar ensurdecedor dos rojões na cidade, pegando-os de
surpresa, os dois amigos atentos na pescaria, certamente teriam ouvido aquela
voz lúgubre, soturna, saída do nada:
- Daqui nove
dias eu passo para te buscar.
Verdade seja dita,
sentiram uma friagem na espinha. Mas não deram muita importância.
Quanto à
“rojãozeira”, tomaram conhecimento do motivo daquela festança toda somente no
finalzinho da tarde seguinte, quando foram até a praça papear com a rapaziada.
(João Neto)