Nota do autor. O
texto que se segue talvez possa ser incluído no gênero policial, guardadas as devidas
proporções de textos semelhantes da lavra de autores mais abalizados. Sua história
e seus personagens são fictícios, saídos da imaginação e da invencionice de
João Neto (pseudônimo do autor), não trazendo quaisquer semelhanças com
acontecimentos reais ou com pessoas vivas ou mortas.
PRIMEIRO
Mário Coceira, Marialva Chupa-Chupa, Cidinho
Mário Coceira olha pra
cima, pra baixo, verificando atentamente o movimento da rua. Deserta.
Satisfeito, entra no escritório de sua loja estabelecida no Jardim Paulista,
bairro de moradores predominantemente classe C da pequena e bucólica cidade
interiorana, trancando a chave a porta.
- Então, está aí com
você? - ele pergunta, com a frieza que lhe é peculiar, sentado em
sua confortável cadeira giratória detrás da mesa do acanhado escritório, fundos
do térreo do assobradado recém construído.
Marialva Chupa-Chupa
sorri, retirando o pendrive que traz entre os formosos seios. Seu discreto
sorriso deixa transparecer a malícia por ter percebido o ávido olhar do pequeno
homem no decote generoso de seu vestido vermelho que, de tão justo, só faz
realçar ainda mais as curvas sensuais de seu corpo perfeito.
- Você é demais, Marialva
– Mário Coceira elogia a eficácia e a beleza morena da jovem sentada de pernas
cruzadas no sofá à sua frente, deixando à mostra um tiquinho de suas coxas
torneadas..
Sem desviar o olhar
daquela formosura de exemplar do sexo feminino, guarda o objeto que ela lhe
passou na terceira gaveta da mesa, de onde retira um envelope marrom fechado, depois
a tranca a chave, colocando o molho de chaves na primeira gaveta.
– Seu dinheiro. Você o
mereceu integralmente.
Marialva Chupa-Chupa
descruza as pernas, num relance deixando
aparecer sua calcinha branca, ficando em pé se compõe e se coloca defronte
à mesa, pegando o envelope, abrindo-o, conferindo a quantia, recolocando-a no
envelope, e guardando este na carteira de couro que segura na mão esquerda, despedindo-se
em seguida de Mário Coceira com um beijo
enviado com o dedo indicador e sua unha pintada em tom vermelho, dirigindo-se até
a saída.
O pequeno homem quase se
rela nela antes de alcançar a porta, abrindo-a. Sorrindo, sempre em silêncio, a
morena passa por ele, pelo umbral, desce
os dois degraus da escada alcançando o estreito corredor externo lateral, deixando
seu perfume impregnando o ambiente.
Sem olhar pra trás ela
alcança a calçada, caminhando tranquilamente rumo duas quadras abaixo, onde o
táxi de Rodivaldo Pé no Breque a aguarda.
- Sorvete de limão, sorvete
de abacaxi, sorvete de groselha...
Cidinho, com seu multicolorido
carrinho de sorvetes, dá de topa com Marialva Chupa-Chupa na esquina.
– Desculpa – ele se escusa educadamente.
- Foi nada – ela fala
suavemente, reconhecendo o sorveteiro.
Marialva Chupa-Chupa pede
seu sabor preferido. Cidinho tira a tampa do recipiente e de seu interior traz sorvete
de limão no palito, entregando à bela morena que lhe passa R$ 1,00 em moeda, depois
retira o papel que protege a guloseima, jogando-o na pequena lixeira de
plástico pendurada no carrinho. Com um aceno de mão se despede dele, retornando
seu caminhar em direção ao táxi.
- Sorvete de groselha,
sorvete de abacaxi, sorvete de limão...
Cidinho retoma sua
ladainha atrás da freguesia, enquanto admira o rebolar da bela mulher que se
distancia.
“Aonde eu vi essa morenaça?”, indaga consigo, dando de ombros por
não se recordar onde teria visto tão linda mulher, observando-a entrar no
veículo de aluguel – “Esse Pé no Breque é
sortudo mesmo”.
Não se apercebendo da
presença de Mário Coceira nos degraus de sua pequena loja de tintas, prossegue
a labuta do pão nosso de cada dia.
- Sorvete de limão,
sorvete de abacaxi, sorvete de groselha...
Mário Coceira caminha pelo
estreito corredor lateral em direção ao escritório falando ao telefone celular.
-
Ele abriu o bico? - indaga
Rodivaldo Pé no Breque à Marinalva Chupa-Chupa, enquanto a visualiza pelo
retrovisor, mas atento ao movimento de veículos na rodovia.
Estão próximos à entrada
da boate, distante cerca de dois quilômetros do centro da cidade.
A bela morena, com um
movimento de cabeça, responde negativamente.
“Ele é esperto. O desgraçado é esperto.”, o taxista conclui consigo
mesmo, enquanto dá três toques na buzina, sinal combinado, em frente ao grande portão da pequena chácara
onde funciona a casa noturna mais afamada da região.
(continua)
(João Neto)