Mané Pequeno anda pensativo.
Não que ele se dê ao luxo de
perder muito tempo em pensar. Quase sempre age por instinto, o que vez ou outra
lhe trouxe complicações e alguns desafetos.
Certa vez de retorno pra casa, a
pé, em companhia de Paulo Sóbrio, amigo de longa data, percebeu um casal
discutindo na praça que fica ao lado do lago artificial existente na entrada da
vila onde residem. Na verdade, a moça esbravejava enquanto sujeito permanecia
cabisbaixo, quieto, ele foi se aproximando mesmo com Paulo Sóbrio pedindo pra
deixar pra lá... Não vem ao caso esse acontecimento; na verdade, nem deveria
ter sido mencionado.
O que importa é que Mané Pequeno
anda pensativo.
A rapaziada do “Óia os Sessentões
Aqui Tráveiz” não se conforma com essa fase pra lá de persistente do eterno
presidente do clube.
- Devemos dar um ultimato em
“Mirtão”.- foi a proposta logo após o jogo de sábado.
Dito e feito. Reunião ordinária
no bar do Tonico das Perucas.
- E, então, Mirtão, desembucha
logo...
Mirtão. Primeiro reserva do time,
solteirão convicto, conquistador afamado apesar de seus cento e cinqüenta e
cinco centímetros de altura, físico de uma ameba (seja lá o que signifique ter
físico de ameba), cavanhaque cultivado desde os idos da adolescência, cabelos a
brilhantina, voz que faz jus a todo o espectro anunciado.
Na última reunião extraordinária
acontecida oito dias atrás tinha se decidido que ele se aproximaria da sensual
mulher de olhos castanhos esverdeados e pele morena e longos cabelos
negros, causa primária – na ótica de
todos os sócios remidos – daquele estado de espírito de Mané Pequeno.
Mirtão enche seu copo de cerveja,
bebe lentamente, enquanto os demais companheiros aguardam seu relatório
pormenorizado. Depois de ingerir todo o líquido, depositar o copo vazio sobre a
mesa, olhando fixamente pra todos.
- Estou apaixonado – anuncia num
suspiro desvairado.
.Mané Pequeno anda pensativo. Sentado
solitário num dos bancos da pequena e arborizada praça, contempla as águas do
lago artificial. Suspira.
- Não disse... Olha só o olhar de
peixe morto, os ombros caídos, o queixo encostado no peito, barba por fazer, a
roupa toda amarrotada.
- Já vi. Já vi.
- Nosso presidente nunca foi
assim. Se um dia conheci alguém engomadinho em minha vida, esse alguém é nosso
presidente.
- Também nunca conheci alguém...
Não. Minto. Conheci sim, mas faz muito tempo, eu inda era moço, mais para
meninote... Acho até que o sujeito já é falecido, ou não... Hummm! Não sei ao
certo, até porque não mais o vi depois que ele mudou de cidade, estado até, por
causa do par de chifres...
- Eita! Deixa dessa bobagem.
As duas mulheres, que até nem
parecem mãe e filha de tão bonitas e jovens, no vespertino jogging diário no
calçamento de pedrinhas que circunda externamente o lago artificial, estranham aqueles dois senhores que cerca de dez minutos estão detrás da frondosa
árvore que faz sombra ao mais que conhecido senhor sentado solitário no banco.
Mário Pequeno anda pensativo.
E agora mais essa: Mirtão
apaixonado.
- Quer saber?
- Não quero, pois sei que vem
mais uma besteira.
- Eu não vou mais ferroar a moça.
Antes de sábado vou chegar nela, olhos nos olhos, e dizer com todas as palavras
silabadas o quanto é estraga prazer.
- Não devia, mas vou perguntar. O
que quer dizer com “estraga prazer”?
- Estraga prazer? Ora, o que
significa, ou seja, essa sensual mulher de olhos castanhos esverdeados e pele
morena e longos cabelos negros que tanto
falam é uma tremenda estraga prazer;.
- Vai dizer isso tudo é?
- É só me mostrarem quem é ela...
- Não seja por isso. Ela está
correndo em volta do lago. Aliás, olha ela ai vindo pra esse lado na companhia
da outra mocinha.
- Hã?
João Neto