segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Crônica (A intervenção)



- Senhor presidente, senhor presidente...

O tom elevado da voz, que traz em si angustiante ansiedade, provoca um silêncio sepulcral, deixando os presentes estupefatos.

Incluindo o presidente, que retorna ao mundo dos vivos quando beliscado pela competente funcionária da casa, postada à esquerda.

No plenário os frequentadores assíduos, não mais que seis não menos que cinco, se agitam nas confortáveis cadeiras almofadadas, o nervosismo tomando conta de seus espíritos de cidadãos, pois claramente estão a testemunhar a primeira intervenção histórica da atual legislatura.

O experiente 1º secretário se ajeita na cadeira de couro de design ultramoderno e ortopédico (Ortopédico!? Deixa pra lá, mas é o que está escrito na nota fiscal), mantendo a costumeira postura, e talvez em razão dela, disfarça que está curioso pelo motivo daquela intempestiva e não combinada intervenção.

 O neófito 2º secretário, ainda não afeito aos trabalhos da casa,  não percebe o acontecido, enrolado que está com alguns papéis à sua frente.

Os três colegas à direita e os três colegas à esquerda ficam atentos, pois aquela intervenção poderia agitar a sessão que transcorre morna como sempre... mais pra fria. Gélida, na verdade.

Até porque todos, exceto os cinco ou seis frequentadores assíduos (seria inusitado se tivessem sido convidados), aguardam com ansiedade seu término para dirigirem-se até a pizzaria mais charmosa da cidade, onde um rodízio especial regado a vinho e sucos os aguarda em comemoração ao aniversário da bela moça responsável pela limpeza da casa de leis que exerce a função de responsável pelos trabalhos originários (convenhamos, nomenclatura original), aliás, que não estaria presente, pois, quinze minutos após ter dividido uma fatia de bolo de fubá com queijo com um dos edis, fora levada as pressas e internada na única casa de saúde existente na localidade com uma danada de diarreia.

E a voz prossegue:

-... preciso me ausentar urgentemente para ir ao banheiro.
 
                       Afe.       

                          (João Neto)                                                                      

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