- Senhor presidente,
senhor presidente...
O tom elevado da voz, que
traz em si angustiante ansiedade, provoca um silêncio sepulcral, deixando os
presentes estupefatos.
Incluindo o presidente,
que retorna ao mundo dos vivos quando beliscado pela competente funcionária da
casa, postada à esquerda.
No plenário os
frequentadores assíduos, não mais que seis não menos que cinco, se agitam nas
confortáveis cadeiras almofadadas, o nervosismo tomando conta de seus espíritos
de cidadãos, pois claramente estão a testemunhar a primeira intervenção
histórica da atual legislatura.
O experiente 1º secretário
se ajeita na cadeira de couro de design ultramoderno e ortopédico (Ortopédico!? Deixa pra lá, mas é o que
está escrito na nota fiscal), mantendo a costumeira postura, e talvez em razão
dela, disfarça que está curioso pelo motivo daquela intempestiva e não
combinada intervenção.
O neófito 2º secretário, ainda não afeito aos
trabalhos da casa, não percebe o
acontecido, enrolado que está com alguns papéis à sua frente.
Os três colegas à direita
e os três colegas à esquerda ficam atentos, pois aquela intervenção poderia
agitar a sessão que transcorre morna como sempre... mais pra fria. Gélida, na
verdade.
Até porque todos, exceto
os cinco ou seis frequentadores assíduos (seria inusitado se tivessem sido
convidados), aguardam com ansiedade seu término para dirigirem-se até a
pizzaria mais charmosa da cidade, onde um rodízio especial regado a vinho e
sucos os aguarda em comemoração ao aniversário da bela moça responsável pela
limpeza da casa de leis que exerce a função de responsável pelos trabalhos
originários (convenhamos, nomenclatura original), aliás, que não estaria
presente, pois, quinze minutos após ter dividido uma fatia de bolo de fubá com
queijo com um dos edis, fora levada as pressas e internada na única casa de
saúde existente na localidade com uma danada de diarreia.
E a voz prossegue:
-... preciso me ausentar
urgentemente para ir ao banheiro.
(João Neto)
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