sexta-feira, 12 de julho de 2013

Crônica (Divagações de um sujeito sem ter o que fazer)



Quem seria aquele indivíduo que na tarde de sexta-feira caminhava feito jagunço e como Pafúncio procurava a imagem ideal dentre aqueles com os quais cruzava pelas ruas do centro de nossa pequena e bucólica cidade interiorana?
De quem seria aquele cão sarnento que revirava sacos de lixos amontoados nas guias das sarjetas das ruas do bairro dos senhores mais abastados e das senhoras emplumadas e dos moços  alienados e das moças de luvas vermelhas?
Quem seria aquele senhor de cabelos grisalhos que feito espantalho se recostava no poste e observava o movimento das pessoas que caminhavam em direção à sorveteria do outro lado da praça da matriz?
De quem seria aquele cão sarnento que se coçava, as pulgas expulsava enquanto descansava debaixo do banco onde no recosto se lia no cartaz fixado com fita adesiva “não sente, tinta fresca”.
Quem seria aquela senhora que em pleno sol do meio-dia se escondia sob a sombra da sombrinha colorida enquanto seus olhos protegia dos raios gama com óculos de lentes espelhadas?
De quem seria aquele cão sarnento que latia rodopiando o louco que cantava no centro da praça uma canção cuja letra seria uma mistura de alemão e mandarim e todo mundo que ouvia entendia e os versos com ele repetia?
Quem seria a jovem senhora que trazia nos braços tatuagens de imagens que outrora sonhava que um dia dela seriam e até então nenhuma delas conseguira?
De quem seria o cão sarnento que entrou na igreja pela porta lateral...

Em tempo.

Uma pombinha branca de peito marrom sentou na ponta da cruz da torre direita da igreja matriz.
Duas beatas misturavam os ingredientes da receita do bolo de chocolate que preparavam para a festa de aniversário do padre e ao mesmo tempo criticavam a crença em santos e arcanjos.
Três bebuns sentados nos banquinhos e debruçados no balcão do bar mais antiga da cidade discutiam o motivo de estarem sentados em banquinhos e debruçados no balcão do bar mais antigo da cidade.
Quatro vagabundos sentados no centro da praça da matriz jogavam bafo com figurinhas de personagens históricos da pequena e bucólica cidade interiorana.
Cinco aposentados sorrateiramente dividiam as “azulzinhas” sendo fotografados furtivamente pela moçoila não muito decente.

Finalizando.
Fim.
João Neto

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