terça-feira, 27 de agosto de 2013

Conto (Mané Pequeno anda pensativo)

Mané Pequeno anda pensativo.
Não que ele se dê ao luxo de perder muito tempo em pensar. Quase sempre age por instinto, o que vez ou outra lhe trouxe complicações e alguns desafetos.
Certa vez de retorno pra casa, a pé, em companhia de Paulo Sóbrio, amigo de longa data, percebeu um casal discutindo na praça que fica ao lado do lago artificial existente na entrada da vila onde residem. Na verdade, a moça esbravejava enquanto sujeito permanecia cabisbaixo, quieto, ele foi se aproximando mesmo com Paulo Sóbrio pedindo pra deixar pra lá... Não vem ao caso esse acontecimento; na verdade, nem deveria ter sido mencionado.
O que importa é que Mané Pequeno anda pensativo.
A rapaziada do “Óia os Sessentões Aqui Tráveiz” não se conforma com essa fase pra lá de persistente do eterno presidente do clube.
- Devemos dar um ultimato em “Mirtão”.- foi a proposta logo após o jogo de sábado.
Dito e feito. Reunião ordinária no bar do Tonico das Perucas.
- E, então, Mirtão, desembucha logo...
Mirtão. Primeiro reserva do time, solteirão convicto, conquistador afamado apesar de seus cento e cinqüenta e cinco centímetros de altura, físico de uma ameba (seja lá o que signifique ter físico de ameba), cavanhaque cultivado desde os idos da adolescência, cabelos a brilhantina, voz que faz jus a todo o espectro anunciado.
Na última reunião extraordinária acontecida oito dias atrás tinha se decidido que ele se aproximaria da sensual mulher de olhos castanhos esverdeados e pele morena e longos cabelos negros,  causa primária – na ótica de todos os sócios remidos – daquele estado de espírito de Mané Pequeno.
Mirtão enche seu copo de cerveja, bebe lentamente, enquanto os demais companheiros aguardam seu relatório pormenorizado. Depois de ingerir todo o líquido, depositar o copo vazio sobre a mesa, olhando fixamente pra todos.
- Estou apaixonado – anuncia num suspiro desvairado.
.Mané Pequeno anda pensativo. Sentado solitário num dos bancos da pequena e arborizada praça, contempla as águas do lago artificial. Suspira.
- Não disse... Olha só o olhar de peixe morto, os ombros caídos, o queixo encostado no peito, barba por fazer, a roupa toda amarrotada.
- Já vi. Já vi.
- Nosso presidente nunca foi assim. Se um dia conheci alguém engomadinho em minha vida, esse alguém é nosso presidente.
- Também nunca conheci alguém... Não. Minto. Conheci sim, mas faz muito tempo, eu inda era moço, mais para meninote... Acho até que o sujeito já é falecido, ou não... Hummm! Não sei ao certo, até porque não mais o vi depois que ele mudou de cidade, estado até, por causa do par de chifres...
- Eita! Deixa dessa bobagem.
As duas mulheres, que até nem parecem mãe e filha de tão bonitas e jovens, no vespertino jogging diário no calçamento de pedrinhas que circunda externamente o lago artificial,  estranham aqueles dois senhores que  cerca de dez minutos estão detrás da frondosa árvore que faz sombra ao mais que conhecido senhor sentado solitário no banco.
Mário Pequeno anda pensativo.
E agora mais essa: Mirtão apaixonado.
- Quer saber?
- Não quero, pois sei que vem mais uma besteira.
- Eu não vou mais ferroar a moça. Antes de sábado vou chegar nela, olhos nos olhos, e dizer com todas as palavras silabadas o quanto é estraga prazer.
- Não devia, mas vou perguntar. O que quer dizer com “estraga prazer”?
- Estraga prazer? Ora, o que significa, ou seja, essa sensual mulher de olhos castanhos esverdeados e pele morena e longos cabelos negros  que tanto falam é uma tremenda estraga prazer;.
- Vai dizer isso tudo é?
- É só me mostrarem quem é ela...
- Não seja por isso. Ela está correndo em volta do lago. Aliás, olha ela ai vindo pra esse lado na companhia da outra mocinha.
- Hã?
João Neto

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