sexta-feira, 3 de maio de 2013

Crônica (Exceção não é tapa-buraco do caos)


A eficiente gerente observa o casal de adolescentes conversando numa das mesas da padaria localizada na região central da pequena e bucólica cidade interiorana. Sexta-feira. O movimento de fregueses está normal. A sorridente balconista se aproxima do caixa, ficando em pé ao seu lado.
Sem dizer nada uma a outra, as duas amigas e colegas de trabalho estão a pensar o que será do futuro daqueles dois “ficantes”, pois aqueles adolescentes assim fazem questão de responder quando perguntados sobre sua relação.
A adolescente de cabelos curtos tingidos numa mescla de azul e vermelho, piercing nos lábios, calça jeans surrada, camiseta branca com cores espalhadas, tênis, mascando chiclete, grávida de dois meses.
O adolescente calcando tênis falsificado de uma marca da moda, na cabeça boné virado para o lado, camiseta com uma frase qualquer em inglês pintada na frente e atrás ao contrário, bermudão de seis bolsos, age como ser o pai o tornasse suprassumo de popularidade entre a rapaziada e as garotas.
A gerente e balconista se entreolham, sabendo que tanto na mente de uma, como da outra, estão frescas as palavras do quarto guardanapo do visitante desconhecido e tivessem sido escritas num quadro-negro.
O que resta aos  adolescentes  desta cidade?
É inegável que ela não lhes oferece  o mínimo, o básico  no que se refere a educação, a cultura,  o esporte e  o lazer.
As escolas existentes não os preparam digna e condizentemente  para  enfrentar a realidade deste mundão de Deus, e muitos deles, a maioria, encerram seus estudos no segundo grau, totalmente despreparados para enfrentar o  exigente mercado de trabalho, mesmo na função pública.
Quanto à cultura e o lazer... Deixemos pra quando acontecerem.
A prática esportiva não é corretamente incentivada, inadvertidamente acontecendo uma seleção daqueles mais aptos... e nem todos os adolescentes são aptos a praticar esportes de médio ou alto nível. A ciência diz que a prática esportiva deve acontecer por toda a vida de uma pessoa.  Fique bem claro isso.
No seio de grande parte de suas famílias, em qualquer das classes sociais, a falta de diálogo com os pais  é  useira nas explicações e teorias teológicas-sociológicas para a quase  falta de perspectiva  pessoal e profissional desses adolescentes.
Sempre há exceções. Mas, exceção não pode jamais ser regra para qualquer conduta, e tampouco tapa-buraco do caos de ideias e realizações na educação, na cultura, no esporte e no lazer desta cidade.
Realizar o óbvio é para os tecnocratas.
A gerente de olhos verdes caminha até o balcão de doces, servindo-se de uma fatia do delicioso pudim de leite condensado e ao mesmo tempo, o que também faz a linda balconista, ainda no caixa, continua a observar o sorridente e meloso casalzinho sentado na mesa como se “se o tempo tivesse parado” às 14h15 dessa sexta-feira, 03 de maio.
João Neto

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