A
eficiente gerente observa o casal de adolescentes conversando numa das mesas da
padaria localizada na região central da pequena e bucólica cidade interiorana.
Sexta-feira. O movimento de fregueses está normal. A sorridente balconista se
aproxima do caixa, ficando em pé ao seu lado.
Sem
dizer nada uma a outra, as duas amigas e colegas de trabalho estão a pensar o que
será do futuro daqueles dois “ficantes”, pois aqueles adolescentes assim fazem
questão de responder quando perguntados sobre sua relação.
A
adolescente de cabelos curtos tingidos numa mescla de azul e vermelho, piercing
nos lábios, calça jeans surrada, camiseta branca com cores espalhadas, tênis,
mascando chiclete, grávida de dois meses.
O
adolescente calcando tênis falsificado de uma marca da moda, na cabeça boné
virado para o lado, camiseta com uma frase qualquer em inglês pintada na frente
e atrás ao contrário, bermudão de seis bolsos, age como ser o pai o tornasse suprassumo
de popularidade entre a rapaziada e as garotas.
A
gerente e balconista se entreolham, sabendo que tanto na mente de uma, como da
outra, estão frescas as palavras do quarto guardanapo do visitante desconhecido
e tivessem sido escritas num quadro-negro.
O que resta aos
adolescentes desta cidade?
É inegável que ela não lhes oferece o mínimo, o básico no que se refere a educação, a cultura, o esporte e o lazer.
As escolas existentes não os preparam digna e condizentemente
para
enfrentar a realidade deste mundão de Deus, e muitos deles, a maioria,
encerram seus estudos no segundo grau, totalmente despreparados para enfrentar
o exigente mercado de trabalho, mesmo na
função pública.
Quanto à cultura e o lazer... Deixemos pra quando
acontecerem.
A prática esportiva não é corretamente incentivada,
inadvertidamente acontecendo uma seleção daqueles mais aptos... e nem todos os
adolescentes são aptos a praticar esportes de médio ou alto nível. A ciência
diz que a prática esportiva deve acontecer por toda a vida de uma pessoa. Fique bem claro isso.
No seio de grande parte de suas famílias, em
qualquer das classes sociais, a falta de diálogo com os pais é
useira nas explicações e teorias teológicas-sociológicas para a quase falta de perspectiva pessoal e profissional desses adolescentes.
Sempre há exceções. Mas, exceção não pode jamais
ser regra para qualquer conduta, e tampouco tapa-buraco do caos de ideias e
realizações na educação, na cultura, no esporte e no lazer desta cidade.
Realizar o óbvio é para os tecnocratas.
A
gerente de olhos verdes caminha até o balcão de doces, servindo-se de uma fatia
do delicioso pudim de leite condensado e ao mesmo tempo, o que também faz a linda
balconista, ainda no caixa, continua a observar o sorridente e meloso casalzinho
sentado na mesa como se “se o tempo tivesse parado” às 14h15 dessa sexta-feira,
03 de maio.
João Neto
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