terça-feira, 26 de março de 2013

Crônica (Berenice parece não gostar de mim)


Berenice parece não gostar de mim.
Não sei bem o motivo. Talvez por ser cheia de manias.
E "cheinha" de corpo. Gordinha. Sem ofensa, claro.
Está ao lado de Amélia pra cima e pra baixo nos dias de culto. Na ida pra igreja, durante o culto, no bate-papo depois do culto, na avenida em frente à igreja,  na volta pra casa. Enfim, grudenta como ela só.
Berenice não sorri. Está sempre carrancuda. E a coisa que calça seus pés?? Algo que se assemelha a sapato, ou a sandália? Humm! Sei não. Tem formato de botina... Não, não pode ser. Algum modelo exclusivo, mas não se trata de botina.
Berenice quase não pisca. E quando o faz, os óculos grossos impedem que se perceba. Se é que ela pisca. E aquelas luvas brancas? Pode estar 40 graus ou 4 graus, lá está ela com as mãos enluvadas.
Berenice é monossílaba. Frase com mais de cinco palavras é discurso. Há de existir neste mundo de Deus alguém que explique sua preferência pela cor roxa. Se em algum domingo trajou roupa de outra cor, deve ter passado despercebido. Mas duvido muito.
Berenice é baixinha. Baixinha?
Isso me faz atentar para meu primo Antonio.
Noto que, nas reuniões da mocidade, ele se refere a ela como “cisne”. Cisne?
Meu primo Antonio? Cisne? Patinho feio?
Estalo.
Berenice grudada em Amélia. Antonio a vê como “cisne”. Então... dois mais dois somam quatro.
Antonio é magro e baixo. Igualzinho a mim. Tão tímido como eu. Nem bonito, nem feio. Igualzinho a mim. E solteiro. Igualzinho a mim.
Como incentivá-lo a paquerar, se aproximar, abordar e, se tudo der certo, namorar Berenice?
Pois creio, como creio na existência de Deus, que se sair coelho dessa cartola, rapidinho, rapidinho, acontecerá o mesmo entre eu e Amélia. Namorar Amélia. Sonho meu, sonho meu.
E, se não der certo a tacada com Antonio, apelo pra minha irmã. Afinal, irmã é pra essas coisas, ou seja, acudir o irmão nestes momentos cruciais.
Quem diria que eu teria ideia tão supimpa?
Antonio e Berenice feitos um para o outro. 
Muito bom. Decisão tomada, plano de convencimento providenciado.
Mãos a obra.
Amélia, Amélia, me aguarde.

(João Neto)