-
Vamos, esposa, estamos atrasados.
-
Espera, esposo – o pedido é delicado, mas firme.
O
velho homem está acostumado. Quando estão prontos para sair, restam “quinze
minutos” de espera. Desde os tempos de namoro é assim.
Na
porta da sala, enquanto aguarda a esposa, observa a cidade. Luzes acesas,
avenida em frente vazia.
-
Vamos.
O
velho homem sorri. Estava tão absorto em seus pensamentos que não sentiu o
tempo passando.
Quinze
minutos depois estão apertando a campainha da casa da única filha. Do portão,
ouvem a barulheira dos netos. Fernanda, seis anos, e Fernando, três anos.
-
Entre, mãe – a voz da filha e o ruído do portão elétrico sendo aberto
confundem-se com as vozes do casal de netos.
Sexta-feira,
08 de março.
Na
mesa do jantar, a filha pergunta:
-
Sabe que dia é hoje, pai?
O
velho homem, sentado entre o casal de netos, garfo em direção à boca com uma
porção de macarronada, olha para a filha.
-
Dia Internacional da Mulher – responde.
-
Pai?
-
Mas é, ué.
A
filha sorri.
Fernanda
puxa a ponta da camisa do avô, manchando com molho. O velho homem deixa
transparecer um leve sorriso.
-
Pai, vamos lá...
O
velho homem mastiga a comida deliciosa.
Depois
do jantar, estão na confortável sala.
No
sofá maior, as três mulheres. Nas poltronas individuais, os dois homens.
Fernando,
ao sinal combinado com o avô, levanta-se, caminha até a estante, de onde retira
uma caixa embrulhada para presente, escondida detrás da televisão, retorna em
direção à avó.
-
Feliz aniversário, vó – ele cumprimenta, esticando o bracinho para entregar-lhe
a caixa.
Joana
olha para o neto. Depois de pegar a caixa, abraça-o fortemente, sentando-o em
seu colo. Fernanda se apossa da caixa, desembrulhando-a euforicamente, sob o
olhar atento da mãe.
Ao
abrir a caixa, Fernanda fica maravilhada. Um colar e uma pulseira e, debaixo
deles, um cartão.
Felícia
passa a caixa para a mãe. Ao abrir o cartão, Joana lê pausadamente.
Se antes vivíamos no paraíso
Contigo
O paraíso se fez aqui
Assim
Foi-me dada esta graça
A cada quinze minutos
Meu amor por ti
Renascer dentro de mim
Joana
e Felícia olham ternamente para o velho homem, enquanto Fernanda encantada toca
nas pérolas do colar.
(João Neto)
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