sexta-feira, 8 de março de 2013

Crônica (Feliz aniversário...)


- Vamos, esposa, estamos atrasados.
- Espera, esposo – o pedido é delicado, mas firme.
O velho homem está acostumado. Quando estão prontos para sair, restam “quinze minutos” de espera. Desde os tempos de namoro é assim.
Na porta da sala, enquanto aguarda a esposa, observa a cidade. Luzes acesas, avenida em frente vazia.
- Vamos.
O velho homem sorri. Estava tão absorto em seus pensamentos que não sentiu o tempo passando.
Quinze minutos depois estão apertando a campainha da casa da única filha. Do portão, ouvem a barulheira dos netos. Fernanda, seis anos, e Fernando, três anos.
- Entre, mãe – a voz da filha e o ruído do portão elétrico sendo aberto confundem-se com as vozes do casal de netos.
Sexta-feira, 08 de março.
Na mesa do jantar, a filha pergunta:
- Sabe que dia é hoje, pai?
O velho homem, sentado entre o casal de netos, garfo em direção à boca com uma porção de macarronada, olha para a filha.
- Dia Internacional da Mulher – responde.
- Pai?
- Mas é, ué.
A filha sorri.
Fernanda puxa a ponta da camisa do avô, manchando com molho. O velho homem deixa transparecer um leve sorriso.
- Pai, vamos lá...
O velho homem mastiga a comida deliciosa.
Depois do jantar,  estão  na confortável sala.
No sofá maior, as três mulheres. Nas poltronas individuais, os dois homens.
Fernando, ao sinal combinado com o avô, levanta-se, caminha até a estante, de onde retira uma caixa embrulhada para presente, escondida detrás da televisão, retorna em direção à avó.
- Feliz aniversário, vó – ele cumprimenta, esticando o bracinho para entregar-lhe a caixa.
Joana olha para o neto. Depois de pegar a caixa, abraça-o fortemente, sentando-o em seu colo. Fernanda se apossa da caixa, desembrulhando-a euforicamente, sob o olhar atento da mãe.
Ao abrir a caixa, Fernanda fica maravilhada. Um colar e uma pulseira e, debaixo deles, um cartão.
Felícia passa a caixa para a mãe. Ao abrir o cartão,  Joana lê pausadamente.
Se antes vivíamos no paraíso
Contigo
O paraíso se fez aqui
Assim
Foi-me dada esta graça
A cada quinze minutos
Meu amor por ti
Renascer dentro de mim
Joana e Felícia olham ternamente para o velho homem, enquanto Fernanda encantada toca nas pérolas do colar.

(João Neto)



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