terça-feira, 5 de março de 2013

Crônica (De repente, eu vi)


De repente, eu vi a moça de vestido e cabelo longos caminhando serena pela calçada.
A grandona discutindo com o grandalhão.
O grandalhão troçando o anão.
O anão na picuinha com a moça magrela.
A moça magrela sorrindo para o banguela.
O banguela distraído apertando a ruela.
De repente, eu vi o baixinho de terno embriagado.
O estudante gazeteando.
Adolescentes no amasso em pleno dia.
A mulher madura de olhos tristes.
O jovem entrando na casa de oração e saindo sem se importar.
O carro de som comercializando a morte pelas ruas da cidade.
De repente, eu vi o cambista anotando aposta feita pelo delegado.
O patrão menosprezando o empregado.
A milícia sem galardão.
Velhos lagarteando nas tardes de verão.
De repente, eu vi a tramoia política glorificando a incompetência.
O doido gritando palavras ininteligíveis
O homem sossegado, olhos de serpente a perscrutar.
A malícia de quem deveria apenas ensinar.
O homem das letras renegado.
De repente, eu vi o malandro sentado no banco da praça com as pernas escancaradas como estivesse numa suíte presidencial.
 
(João Neto)
 

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