sábado, 23 de março de 2013

Crônica (No lanche vespertino)


- Quem entende.
Os dois jovens estão na sala da casa. A televisão está ligada, na tela imagens de um programa esportivo.
- Quem entende?
- Estive pela manhã na quadra do clube...
- E?
Da cozinha, a mãe chama pela jovem.
- Depois eu termino.
Enquanto a jovem atende ao chamado maternal, seu irmão permanece na sala acompanhando o jogo de futebol entre dois times europeus.
- Cadê seu irmão?
- Na sala.
A mãe chama pelo filho, enquanto pede à filha ajuda-la na arrumação da mesa para o lanche vespertino.
- Vá chamar seu pai. Ele está no computador – pede a mãe ao filho que está atravessando a porta, que de imediato dá meia-volta.
 - Mãe, lá no clube aconteceu um fato que não concordei muito.
-  O que seria, filha?
As duas mulheres terminam a arrumação  da mesa.
- Estava tendo um jogo de vôlei, e o diretor esportivo...
- Emerenciano.
- Ele mesmo, mãe.
- O que ele fez desta vez?
A adolescente senta em sua cadeira, enquanto a mãe faz o mesmo. Neste momento entra o pai, logo atrás dele o adolescente. Ambos sentam em suas respectivas cadeiras.  
- Como eu dizia pra mamãe...
- Emerenciano novamente, amor – a mulher comunica ao marido.
- ...Então, como eu dizia – prossegue a adolescente, enquanto passa requeijão na fatia do bolo de fubá – parece que um novo sócio, acompanhado da filha, se aproximou dele, durante a partida de vôlei, sugerindo educadamente algo no sentido de melhorar a prática esportiva. Algo como interagir com as demais atividades que o clube oferece.
- E, como sempre, ele esbravejou, deixou o sujeito falando sozinho, foi até a porta do ginásio, acendeu um cigarro (prá alguém ligado ao esporte, nada recomendável) e não conversou com mais ninguém.
- Como você sabe disso, pai?
- Mana, dê poder a alguém e verás quem realmente ele é...
- Olha só meu irmão. Filosofando.
Pais e filhos sorriem gostosamente.
- Na verdade, filha, ou ele muda de atitude, sendo mais positivo, ou acaba perdendo apoio daqueles realmente interessados em contribuir.
- Talvez alguém deva falar com ele ou com a diretoria do clube, amor – a esposa interfere com mansidão.
- Passa a jarra de suco de limão, mana – pede o adolescente à sua irmã gêmea.
A família curte esse momento de conversar, colocar os assuntos em dia.
- Vamos falar sobre a escola – diz o pai – Esse assunto do clube, cabe a quem de direito resolver. Nossa atitude, penso,  é ajudar quando nos for solicitado. Afinal, sabemos que ter acesso ao esporte, à cultura e ao lazer é bom pra todos, não é mesmo?
Os demais membros da família concordam.
Lá fora, a vida continua como sempre na pequena e bucólica cidade interiorana.

(João Neto)