sexta-feira, 29 de março de 2013

Crônica (E assim terminou...)


Jamais alguém imaginaria que terminaria assim.
De imediato, esclareço que Amélia não frequenta mais a reunião da mocidade. Há algum tempo não a vemos, e as últimas notícias sobre ela dão conta que foi seduzida pelas coisas do mundo.  Toda sedução é uma ilusão, favo sem mel. Mas tenho comigo que logo, logo, estará de volta.
Antonio, meu primo, agora é músico, faz parte da orquestra de nossa igreja. Namora firme com Cleuza.  Esse namoro vai acabar em casamento. Espero que sejamos convidados para padrinhos, afinal fomos os primeiros a incentivar essa relação. Eu e minha amada Berenice.
Alias, estamos de casamento marcado. Terceiro sábado de agosto. Eles ainda não sabem, mas Antonio será meu padrinho e Cleuza madrinha da noiva.
Corte rápido.
- E o guri sentado como Buda?
- Apesar dessa sua descrença, digo e repito, eu vi.
Godofredo começa a rir.
- Ri. Quando acontecer contigo, aí não me venha com chorumela.
Godofredo desenfreia o riso.
Ele e Hermenegildo estão sentados no banco preferido da praça da matriz da pequena e bucólica cidade interiorana, aguardando o ônibus circular. Resolveram passear pela cidade naquele veículo, até porque é grátis.
- Mas pode! Compadre, hoje é feriado, não tem circular.
- É não é mesmo.
Surge, vindo lá dos lados da avenida, Berenice e aquele rapazinho baixinho e magérrimo, desconhecido pelos dois compadres, caminhando de mãos dadas.
- E lá vem ela... – troça Godofredo.
- Deus do céu! Deus do céu!
- Casalzinho bonito – elogia Godofredo.
- Boa tarde – Berenice os cumprimenta com seu jeito monossílabo, mas os olhos denunciando a felicidade que traz no coração.
- Menina, por favor – chama Godofredo.
- Sim – Berenice atende ao chamado, parando em frente aos dois velhotes, o namorado ao lado, em silêncio.
- Menina, desculpa  minha curiosidade. Mas, você é neta de Berenice?
- Sou – a jovem responde cordialmente.
- Por gentileza, diga à sua avó que Godofredo manda lembranças.
Hermenegildo sai de seu silêncio.
- E o rapaz, de onde é?
- Da capital, meu senhor – Berenice responde por ele.
Godofredo tenta disfarçar, mas não esconde o riso ao ver a expressão e o suor escorrendo no rosto de Hermenegildo.
- Seu nome? – Hermenegildo se dirige ao jovem.
- Berenice – responde a jovem pressupondo que a pergunta foi-lhe dirigida.
Ai Godofredo não disfarça mesmo sua satisfação ao ver a saia justa em que se encontra seu compadre.
- Vamos, amor? – convida Berenice.
- Diga à sua avó que também mando lembranças.
- Da parte de quem?
- Diga apenas da parte de Hermenegildo.
- Serão transmitidas – diz a moça.
O rapazinho baixinho e magérrimo acompanha a namorada da maneira que chegou, mudo.
- Compadre, não tem ônibus circular, então...
- Então você paga a pipoca.
- Pago. Quero ver você se engasgando – brinca Godofredo.
E os dois compadres caminham lentamente em direção ao carrinho de pipoca do Bentinho estacionado no lugar de sempre ali na praça.
 
(João Neto)